E esta informação não podia ser mais verdadeira: aqui vende-se vinho (uma carta com 37 entradas, onde há Porto Graham"s e Madeira a três euros o cálice) e pouco mais - há cervejas (duas) e algumas bebidas destiladas. Não há água, sumos, café ou chá. Nem tão-pouco comida. É por isso que neste fim de tarde vemos de tudo em cima das mesas, mas comprado no exterior: a tão típica mortadela, o delicioso queijo Parmigiano Reggiano, batatas fritas, salgadinhos...
Pedimos um copo de branco gaseificado (2,50 euros) e, com licença, sentamo-nos numa das várias mesas corridas que compõem a sala. Isto é uma imersão na vida de Bolonha: o povo está alegre, festivo, faz brindes atrás de brindes e ficamos com a sensação que daqui a pouco já seremos todos amigos. Vemos malta com piercings, homens com gravata, uma ou outra mulher com ar de mãe de família, ali ao fundo algo que se parece com uma despedida de solteiro - mas mais daqui a pouco saberemos que não, era tão-só uma festa de final de curso de um estudante da Universidade de Bolonha. Aqui faz-se a festa toda, fazem-se todas as festas, mas um papel na parede avisa que "é proibido tocar e cantar".
À saída, reparamos num painel de azulejos escrito em português. É uma espécie de "código penal" a aplicar a quem maltratar o vinho. Entre outras coisas, determina que quem não fizer "continência a uma pipa cheia" será condenado a "seis anos de trabalhos forçados". Quem "jurar não beber mais" merece "pena de morte". Pedimos mais um copo, pelo sim, pelo não?
II acto: De olhos bem abertos
Sinceridade acima de tudo: não tínhamos expectativas muito elevadas sobre Bolonha. Partimos, no entanto, de espírito aberto: tudo o que viesse seria lucro. E talvez as melhores viagens sejam mesmo estas. Já dissemos que temos muito respeito pelos adágios, e quem diz adágios diz clichés, e por isso cá vai mais um: Bolonha revelou-se uma bela caixinha de surpresas.
As arcadas (e as torres, mas lá chegaremos) são o elemento arquitectónico mais marcante da cidade. Estão por todo o lado e, somadas, perfazem um total de mais de 40 quilómetros. Contam os locais que protegem Bolonha dos elementos: no Inverno, quase tornam os guarda-chuvas dispensáveis; no Verão, são um excelente resguardo para o sol.
Muita da vida de Bolonha faz-se sob estas arcadas, que começaram por ser construções abusivas dos proprietários das casas e acabaram por ser regulamentadas pelas autoridades municipais, que determinaram que, uma vez construídas a título particular, o seu uso teria de ser público. Hoje, a maior parte das lojas das grandes cadeias internacionais ficam sob estes pórticos, assim como os cafés mais frequentados de Bolonha.
As arcadas são tantas e tão diversas arquitectonicamente que há mesmo um roteiro turístico que lhes é exclusivamente dedicado. Passa por oito dos pórticos mais relevantes de Bolonha, a começar desde logo pelo do Pavaglione, um dos mais simbólicos e calcorreados da cidade - ou não fosse sob ele que se encontra o Archiginnasio, onde pela primeira vez se reuniram todas as escolas da Universidade de Bolonha, até então espalhadas por vários locais.