Fugas - viagens

Nelson Garrido

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Emilia-Romagna em três actos

Entramos, finalmente, e vemos logo que é uma igreja gótica gigantesca - depois confirmamos que tem 130 metros de comprimento por 58 de largura, com uma cúpula de 45. Nesta tarde de sábado estarão cá dentro mais pessoas a rezar do que propriamente turistas. Estamos tão determinados a encontrar o fresco de Giovanni da Modena que quase não reparamos no famoso relógio solar construído por Cassini em 1655. A má notícia: com pouca luz e sem mais referências nem guia a quem perguntar - Paola, a falta que nos fizeste! -, não conseguimos descobri-lo. (Já agora, quem quiser procurá-lo, saiba que está na ala esquerda da igreja, à quarta capela.) 

Não disfarçamos a frustração - e decidimos afogá-la numa chávena de chocolate quente, que nos dá o conforto necessário para a caminhada final pelas ruas de Bolonha. Não é muito longa, felizmente - a Via delle Belle Arti, onde está instalada a oficina de Bruno Stefanini, um dos três construtores de violinos que sobrevivem em Bolonha, é a menos de cinco minutos. 

Ouvimos falar em violinos e pensamos imediatamente em Cremona e, claro, nos famosos Stradivarius. Bruno parece ler-nos os pensamentos e é ele mesmo quem toca no assunto: "A construção de instrumentos em Bolonha é muito mais antiga do que em Cremona. Desde 1400 que cá se fazem alaúdes. Com o tempo, os que faziam alaúdes tornaram-se também construtores de violinos. E, mais importante ainda, em Bolonha a produção de violinos nunca foi interrompida, o que já não aconteceu em Cremona."

O que diz a seguir, num inglês fluentíssimo, é que não é muito auspicioso: "Eu construo violinos há trinta anos, mas a minha geração será provavelmente a última a fazê-lo." Um mês é o tempo que demora a fazer um violino, para um violoncelo são precisos três. No que toca a preços, um violino saído desta pequena oficina pode custar entre oito mil a vinte mil euros.

A conversa de Bruno foi música para os nossos ouvidos. Tivéssemos mais tempo e teríamos visto o Museu Internacional da Música - instalado, desde 2004, no seiscentista Palácio Sanguinetti - com olhos de ouvir. (Aos verdadeiramente apaixonados pelo mundo musical, aconselhamos sem sombra de dúvida uma visita com tempo.) Tivéssemos mais duas noites em Bolonha e teríamos ido à ópera ao Teatro Comunale. E por falar em teatro, antes que corra o pano talvez seja melhor reformularmos o título deste II acto: de olhos bem abertos e de ouvidos bem apurados.

III acto: Prego a fundo

... até Maranello, a 17 quilómetros de Modena. E Maranello resume-se com uma cor: vermelho. Maranello é a Ferrari e o resto é paisagem. É aqui que está instalada a fábrica dos míticos Cavallino Rampante e é por ela que, todos os anos, uma legião de aficionados se põe a caminho desta cidadezinha de 16.500 habitantes de arquitectura industrial desinteressante. Em bom rigor, não é pela fábrica, aonde as visitas estão interditas, mas sim pela Galeria Ferrari, onde acabámos de chegar.

À entrada do museu, duas raparigas na casa dos 20 anos, bonitas, perguntam-nos se queremos experimentar um Ferrari. Não resistimos à brincadeira: "Não, obrigada, temos um em casa." Um test-drive de 10 minutos custa 60€. 

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