Fugas - viagens

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Lviv, a cidade dos cinco nomes

À saída do aeroporto, lá se apanha o táxi. Já estamos habituados a regatear o preço. O homem diz 200, eu digo 50 e vamos por cem. No regresso, um táxi marcado pelo hotel custa só... 50. Em matéria de táxis, a Ucrânia é Marrocos.

A caminho da cidade, entre estradas esburacadas, ruas empedradas e casas de piso térreo parece que estamos a entrar em Viseu ou na Guarda há três décadas... No escuro, não sabemos que à nossa volta está uma cidade industrial de quase um milhão de habitantes. Nessa cintura fica o estádio onde Portugal jogará por duas vezes. Ao contrário do que acontece nas outras cidades, fica longe do centro. Está pronto e já foi inaugurado, mas ainda há obras nos parques de estacionamento. Quando o visitei, foi-me concedida a honra de descer no elevador presidencial, do último ao primeiro andar sem paragens. Em Lviv ficaram zangados porque o Presidente Janukovich veio ao estádio mas não ficou para o jogo de estreia. Para se vingarem, deixam todos os convidados que por aqui passam usá-lo.


Uma cidade intacta

Ao chegar ao centro, também não estamos preparados para a cidade histórica (que resistiu quase incólume à II Guerra Mundial) com a qual deparamos quando estacionamos àporta do Hotel George, na avenida principal, a Svobody. É o mais antigo da cidade e data de 1901. Regressámos à Áustria-Hungria antes de 1914, como se estivéssemos a ler as primeiras páginas de O Homem sem Qualidades. Lviv é intimista, acolhedora, feminina; queremos ir já ao encontro dela (o hotel não tem casa de banho no quarto e isso ajuda). A cidade onde nasceu o escritor de ficção científica Stanislaw Lem (autor de Solaris) e viveu o caçador de nazis Simon Wiesenthal é antes de tudo um grande centro universitário. E os cerca de 160 mil estudantes dominam de facto o ambiente.

Parto em busca de um sítio para comer e beber um copo e a oferta é infinita, sob as fachadas iluminadas da catedral latina, da igreja das carmelitas, da câmara municipal. O acaso dos passos conduziu-me até um restaurante grego e variei do borscht e dos vareniki. Numa cave rodeado por jovens a beber shots de vodka uns atrás dos outros (a vodka ucraniana, ao contrário do vinho, é francamente recomendável), fiquei a saber que não é por acaso é que o bar se chama El Greco.

Na mesma rua, a Rusky, ficam o palácio e a torre Korniakt, ambos construídos no século XVI por Konstantinos Korniaktos, um grande mercador de origem cretense que se fixou em Lviv, onde morreu em 1603. Korniaktos, o grego, é uma daquelas figuras que ilustra a multiculturalidade da cidade. Lviv era um pouco uma cidade no fim do mundo, ligando a Europa central à estepe que se prolongava para Leste. Um continente amplo e vazio como um oceano de onde vinham não apenas a ameaça dos mongóis mas também os mercadores arménios, que fugiam dos otomanos. Estes fundaram um bairro e uma catedral, no século XIV. É um dos poucos edifícios que sobreviveu ao grande incêndio que devastou a cidade gótica no século XVI. O templo foi construído com base na catedral de Ani, construída no século X na antiga capital da Arménia, hoje em território turco. Ao modelo original foram acrescentados elementos renascentistas e barrocos, ao qual se somou um conjunto de frescos do início do século XX.

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