Seguimos esses passos até lá, passando o Palácio das Artes, o Mercado Ferreira Borges convertido em Hard Club, sempre em ferro vermelho ocre a olhar o Infante D. Henrique que aponta na direcção do mar. A casa onde nasceu está mais abaixo, já no dédalo da Ribeira, onde poucos bares sobrevivem mas onde os restaurantes resistem e os wine bars começam a surgir, quase todos a olhar o rio, para as caves do vinho do Porto que à noite são luzes de néon. É o coração turístico do Porto, esta Ribeira postal ilustrado vista do outro lado do Douro, escura, estreita e labiríntica em contacto directo, povoada de escadinhas e pracetas inesperadas onde a vida segue à margem do movimento turístico, lojas de artesanato e souvenirs. Porém, ao contrário do que os turistas canadianos viram, entre aquelas onde abundam os atoalhados e cachecóis da selecção, nasceram projectos em que o nome Porto equivale a design. A Take Away Porto é paradigmática: o conceito é apresentar artistas portuenses a trabalhar sobre o Porto, em declinações que passam pela pintura, artesanato, decoração, edição. Inclui uma galeria no primeiro andar e no rés-do-chão tanto se encontram peças de Siza Vieira como t-shirts, sacos e postais de autor.
Em alguma destas lojas que pululam na zona histórica à beira-água se calhar encontrar-se-ão t-shirts "I (heart) Opo". E neste contexto talvez não se coloque a dúvida quanto ao "Opo", diminutivo de Oporto. Mas foi esse desconhecimento que levou Ana Luandina a uma espécie de epifania. Daí até ao Miss'Opo (ou, deveríamos dizer, "a") foi o passo de um projecto de café-bar e guest house, que se materializou entre a Rua dos Caldeireiros e a Rua de Trás - literalmente, uma porta em cada uma das ruas -, em pleno bairro típico e à sombra dos Clérigos. Crianças brincam na rua, conversa-se janela-a-janela e no São. João ainda se saltam fogueiras. "Os vizinhos são muito coloridos, dão a cara", diz Ana.
As máquinas fotográficas viram-se para a Capela de Nossa Senhora da Silva, frontaria clara marcada por oratório no primeiro andar e devotos insuspeitos a deixar, entre gritos de discussão, esmola na caixa; os rostos espreitam ao lado, pelas janelas do Miss'Opo, versão bar-restaurante. O que vêem são mesas de várias formas, cadeiras desirmanadas, sofás, armários retro com livros, panos de renda, jarros de flores e vasos de plantas: uma turista pede "aquela cerveja", que é a Sovina; outros pedem para ver o espaço soltando "It's beautiful". A curiosidade é tanta que se fazem visitas guiadas, refere Paula Lopes, a outra sócia, incluindo à casa de hóspedes (t0 e t2): "As pessoas olham, entram e ficam... maravilhadas. Dizem que não se sentem no Porto". Berlim é comparação habitual.
Em breve haverá aqui "Trocas por Arte" (Julho, esperam) e o turismo cultural é uma aposta. Por enquanto, servem-se refeições (mais ou menos) ligeiras - menu de petiscos a giz na parede - e jantares quase de improviso, o que significa sem menu fixo, ao sabor das idas ao supermercado. "Como se fosse um jantar de amigos", afirmam.