Fugas - viagens

  • A filmar uma panorâmica de Roma (a partir do parque Gianicolo)
    A filmar uma panorâmica de Roma (a partir do parque Gianicolo) Chris Helgren/Reuters
  • Voo de gaivotas sobre a estátua do Anjo, de Ferrata, na ponte de Sant'Angelo
    Voo de gaivotas sobre a estátua do Anjo, de Ferrata, na ponte de Sant'Angelo Alessandro Bianchi/Reuters
  • Na ponte Sant'Angelo
    Na ponte Sant'Angelo Tony Gentile/Reuters
  • A estátua de Vitória no monumento à pátria
    A estátua de Vitória no monumento à pátria Max Rossi/Reuters
  • Arco-íris sobre o monumento a Vittorio Emanuele II
    Arco-íris sobre o monumento a Vittorio Emanuele II Reuters
  • "Gladiadores" perto do Coliseu (a tentarem ver o planeta Venus a cruzar o Sol em 2004) Tony Gentile/Reuters
  • A pedalar perto do Palácio Quirinale
    A pedalar perto do Palácio Quirinale Tony Gentile/Reuters
  • Um clássico Alfa Romeo (Spider
    Um clássico Alfa Romeo (Spider "Duetto" de 1967) "ultrapassa" o Coliseu Stefano Rellandini/Reuters
  • Uma cruz arde frente ao Coliseu na tradicional Via Crucis
    Uma cruz arde frente ao Coliseu na tradicional Via Crucis Max Rossi/Reuters
  • Fori Imperiali
    Fori Imperiali Tony Gentile/Reuters
  • Circo Massimo e o Monte Palatino
    Circo Massimo e o Monte Palatino Alessandro Bianchi/Reuters
  • A Casa das Vestais no Fórum
    A Casa das Vestais no Fórum Max Rossi/Reuters
  • A Casa das Vestais no Fórum
    A Casa das Vestais no Fórum Max Rossi/Reuters
  • Actores vestidos à Roma Antiga descansam numa pausa de gravações na Cinecittà
    Actores vestidos à Roma Antiga descansam numa pausa de gravações na Cinecittà Alessia Pierdomenico / Reuters
  • Uma actriz, vestida como na Roma Antiga, conversa ao telemóvel durante uma pausa das gravações da série
    Uma actriz, vestida como na Roma Antiga, conversa ao telemóvel durante uma pausa das gravações da série "Roma" (na Cinecittà) Stefano Rellandini/Reuters
  • Rodeado de arte, um homem descansa na piazza Navona
    Rodeado de arte, um homem descansa na piazza Navona Stefano Rellandini/Reuters
  • Na Piazza Navona
    Na Piazza Navona Alessandro Bianchi/Reuters
  • Na praça de São Pedro, durante uma missa do papa Bento XVI
    Na praça de São Pedro, durante uma missa do papa Bento XVI Stefano Rellandini/Reuters
  • A Guarda Suíça protege a Basílica de São Pedro, Vaticano
    A Guarda Suíça protege a Basílica de São Pedro, Vaticano Stefano Rellandini
  • Na praça de São Pedro, Vaticano
    Na praça de São Pedro, Vaticano Stefano Rellandini/Reuters
  • Um fresco terminado por Rafael:
    Um fresco terminado por Rafael: "O Cardeal e as Virtudes Teológicas" nos museus do Vaticano Reuters
  • A abóboda da Basílica de São Pedro
    A abóboda da Basílica de São Pedro Max Rossi/Reuters
  • "O Êxtase de Santa Teresa", de Bernini, na igreja de Santa Maria della Vitoria Chris Helgren/Reuters
  • "O Êxtase de Santa Teresa", de Bernini, na igreja de Santa Maria della Vitoria Max Rossi/Reuters
  • Fontana di Trevi (aqui com uma imagem projectada de Anita Ekberg, que ajudou a celebrizar o romance da fonte no filme de Fellini
    Fontana di Trevi (aqui com uma imagem projectada de Anita Ekberg, que ajudou a celebrizar o romance da fonte no filme de Fellini "La Dolce Vita") Max Rossi/Reuters
  • Detalhe da Fontana di Trevi
    Detalhe da Fontana di Trevi Max Rossi / Reuters
  • Na Fontana di Trevi
    Na Fontana di Trevi Alessia Pierdomenico / Reuters
  • Fontana dei Quattro Fiumi na Piazza Navona
    Fontana dei Quattro Fiumi na Piazza Navona Chris Helgren / Reuters
  • Ponte Sant'Angelo no rio Tibre
    Ponte Sant'Angelo no rio Tibre Chris Helgren/Reuters
  • Vista para a Basílica de São Pedro a partir do Castelo de Sant'Angelo
    Vista para a Basílica de São Pedro a partir do Castelo de Sant'Angelo Chris Helgren/Reuters
  • Anoitece em Roma e nuvens negras cercam a cúpula da Basílica de São Pedro
    Anoitece em Roma e nuvens negras cercam a cúpula da Basílica de São Pedro Stefano Rellandini/Reuters
  • Lua sobre a Basílica de São Pedro
    Lua sobre a Basílica de São Pedro Alessandro Bianchi/Reuters

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Em Roma tudo é uma história

E então lembra-nos dos filmes de Fellini, de como nunca lhes falhava este conflito entre a humildade e a transcendência. Fosse Ekberg na fonte de Trevi, fosse Massina na estrada a tentar consolar Anthony Quinn, fossem as colossais putas na alegórica Roma ou a consciência da imensa fragilidade de Casanova. E hoje, num país em crise, sob ajuda económica, o que filmaria Fellini? A pergunta é feita pela guia que nos leva ao Usina 5, o famoso estúdio onde Fellini viveu a sua vida — “porque Roma aqui pode ser o que eu quiser”, como conta num documentário que o homenageia na Cinecittà. “Filmaria a crise”, dizem, ao mesmo tempo, uma francesa com quatro irrequietos filhos e uma italiana, que acompanha o fascínio do namorado. Mas que crise? Onde é que ela se vê? Lojas cheias, restaurantes com filas de espera, carros a cruzarem a Via Venneto, tal qual como no La Dolce Vita.

É possível estar em Roma e ignorar a crise? É. Mas também só em Roma, numa Roma que nunca quis olhar para a realidade, se pode descobrir, olhos dentro, o confronto entre as Itálias que nunca se deram mas foram forçadas a conviver dentro do mesmo território. As filas de turistas para entrar no Coliseu fazem com que as bilheteiras fechem duas horas antes do previsto. E as pinturas naïf vendidas a preços demasiado elevados para a sua qualidade na Piazza Navona saem como se fossem gratuitas. E as duas horas de espera para entrar na Basílica de São Pedro permitem guardar diálogos trocados entre italianos de todas as zonas do país e de turistas de todas as partes do mundo.

Mas é na dolência de um domingo à tarde, fugindo à chuva que insiste em cair, e depois de termos encontrado nos postes da Via del Corso mensagens de apoio e repúdio às políticas de Mario Monti, que ouvimos o que achávamos copiado do que Anouk Aimée diz a Marcello Mastroianni numa madrugada das muitas que passaram acordados em La Dolce Vita: “Talvez os tenhamos convencido de que podiam ser iguais a nós.”

Na livraria do Pallazo delle Espozicioni, onde convivem uma exposição genérica sobre a Paris fotografada por Doisneau e uma outra sobre a rota da seda, ouvimos a conversa entre dois casais que ocupam o corredor dos livros de arte e design. Diz uma das mulheres: “O povo de Itália explica-se assim: a pequena e média burguesia quiseram chegar ao poder o que, eventualmente, conseguiram, sem meios nem muito talento, à força de verem falir os senhores dos palácios. E, porque os queriam imitar, puseram nos seus pés os chinelos que invejavam, mas para os quais nem tamanho tinham, sujos ainda com terra do campesinato.” Dá vontade de interromper, de perguntar se a ausência de cartazes de protesto nas ruas, a normalidade anormal que os circuitos turísticos garantem, a implacabilidade de um país sob controlo financeiro nada fizeram para alterar a visão de um país sem sentido de auto-crítica. E, apanhados a ouvir a conversa, o homem do outro casal, diz, para que o possamos ouvir: “Eventualmente a Itália não fez mais do que antecipar toda a Europa. É essa a sua grandeza.” E ela responde: “É essa a armadilha em que se vive. O povo não tem altura para os tectos dos palácios onde vive.”

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