Fugas - viagens

Tower Bridge, Londres, 2012

Tower Bridge, Londres, 2012 Miguel Medina/Reuters

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Astérix: E a Bretanha nunca mais foi a mesma

A travessia de Calais (Portus Itus) para Dover (Dubris) era naquela altura, como ainda hoje, difícil. Apesar de serem apenas 50 quilómetros, no canal o mar bate picado e as ondas rebentam, por vezes, contra as barcaças mais frágeis com violência. Naufrágios eram comuns. Talvez por isso, Obélix propusesse um túnel: “Sabes o que vinha a calhar, Astérix? Um túnel que ligasse a Gália à Bretanha. Assim, viajava-se sem chuva nem nevoeiro.” Parece que já desde antes de Cristo que os bretões andavam a pensar nisso, apesar de o túnel só ter sido de facto inaugurado em 1994.

Chegar de Paris no Eurostar à estação de St. Pancras é “aterrar” ao fim de duas horas e vinte e cinco minutos (pontualidade britânica, please) numa das mais belas estações do mundo. Entre a estação de King’s Cross e a British Library, St. Pancras é um edifício vitoriano (inaugurado em 1868) saído de uma Londres mergulhada em nevoeiro, quase neo-gótico, medonho e grandioso, que esteve para ser demolido nos anos 60 do século passado.

Ainda bem que não, porque hoje, além de servir de lounge do Eurostar, com cafés e delicatessens de inspiração “gaulesa” – deliciosos queijos que chegam (de comboio?) do lado de lá da Mancha, vinhos Côte du Rhône, Burgundy ou Beaujolais e croissants quentinhos que parecem mesmo saídos de Paris (ou de Bruxelas) da cadeia Le Pain Quotidien, que nos últimos anos invadiu Londres — St. Pancras tem também um dos mais luxuosos hotéis de Londres, o St. Pancras Renaissance Hotel, da cadeia Marriott, cuja renovação custou mais de 200 milhões de libras.

Em St. Pancras, há ladies de boina e messieurs de sapatos primorosamente engraxados. Em muitos lugares, fala-se francês como se estivéssemos, de facto, na “Europa”, e chegar a esta Londres é chegar finalmente “à civilização” como só os “gauleses” a sabem exportar.

Mas cuidado ao atravessar a rua! É que cruzar a porta da estação é deparar-se com o trânsito que circula “fora de mão”. Na verdade, já Astérix e Obélix tinham notado que muitas coisas na Bretanha eram “ao contrário”. Como as medidas, por exemplo: “Os romanos medem a distância em passos e nós em pés. São precisos seis pés para dar um passo”, explica Jolitorax. Obélix, perplexo, suspira “estes bretões são loucos!”. Como bons bretões, os adjectivos também vêm antes dos verbos. Obélix não entende por que dizem “rica boa ideia” ou “uma romana patrulha!” ou ainda a “Londinium Torre” – a famosa Torre de Londres, construída apenas em 1078, mas cujo território pertencia à cidade romana de Londinium.


Londres romana

A fundação da cidade que, no futuro, seria capital do império britânico (à semelhança de Roma, talvez o maior império da história ocidental depois do romano) dá-se apenas no ano de 43. A Londres romana estendia-se entre a margem norte do Tamisa, diante da London Bridge, até Bishopsgate, a avenida que separa o centro de East London, num triângulo demarcado por Fleet Street e pela Catedral de St. Paul (a oeste), a estação de Liverpool Street a norte e, a este, Whitechapel e Aldgate.

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