Fugas - viagens

Tower Bridge, Londres, 2012

Tower Bridge, Londres, 2012 Miguel Medina/Reuters

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Astérix: E a Bretanha nunca mais foi a mesma


Ainda há cerveja quente?

Porque todas as estradas vão dar a Roma, é talvez chegado o tempo de descanso. Nem Astérix e Obélix deixaram de se divertir com o néctar dos deuses, inspirados talvez por Baco, o deus romano da folia e da boémia. Ficaram obviamente chocados quando Jolitorax lhes serviu cerveja… quente. “Não estão suficiente mornas?”, perguntou o bretão. “Posso mandá-las aquecer.”

Já não é bem assim nas Ilhas Britânicas. Uma lager quer-se fresquinha e os ingleses sabem como fazê-la — é provável que a cerveja se mantenha mais fresca se pedir uma half pint (28 cl) do que uma pint (50 cl). No fim de uma noitada de sexta ou sábado, madrugada fora, talvez seja difícil encontrar cerveja no barril, quanto mais fresca. O “problema” continuam a ser as ales: para fazerem justiça à sua textura frutada, ao seu aspecto turvo e ruivo, querem-se mais quentes do que as lager, porque são mais pesadas. São mais caras, mas valem a pena. Bebem-se maravilhosamente sós ou acompanhadas, sobretudo no Inverno, ou naqueles domingos frios em que a chuva bate nas vidraças do pub – domingo é dia de pub e futebol (ou râguebi) em família. Depois disso, nunca mais vai desejar uma “loira fresquinha”. Talvez só no Verão, naqueles domingos frios em que a chuva…

Cervejas artesanais estão a regressar em força ao Reino Unido e, curiosamente, alguns dos melhores pubs que as servem são em East London, ou seja, nos passos de Astérix e Obélix (e dos romanos). A Time Out London recomendava recentemente uma série de “boutique pubs”, como Mason & Taylor em Shoreditch, The Euston Tap (ali mesmo ao lado de St. Pancras), ou a Craft Beer Company em Farringdon. Neste último, aberto em 2011, há 37 cervejas de barril, 16 das quais ales envelhecidas em barris de carvalho de produtores independentes britânicos, mais 300 tipos de cervejas engarrafadas e ainda lagers e ales importadas dos EUA ou da Bélgica. Será que a temperatura ainda é assim tão mais importante do que o sabor?

O mesmo se pode dizer da comida. Longe vão os tempos em que se dizia que os ingleses não sabiam cozinhar: javali cozido com molho de hortelã? “Pobre animal”, dizia Obélix. Na última década, o Reino Unido assistiu a uma verdadeira revolução culinária. E, hoje, se pensar em chefs populares internacionais com programas de televisão, é bem provável que Jamie Oliver, Gordon Ramsay ou Nigella Lawson sejam nomes reconhecíveis para aqueles que há uns anos não apostariam sequer que Londres podia ser destino de foodies.

Mas é: até a editora britânica Penguin Random House lançou recentemente o site Happy Foodie, onde partilha diariamente o melhor das receitas dos seus chefs com livros publicados. E se quiser ainda manter-se pela zona “romana” da capital do Reino Unido é onde vai encontrar, além das habituais cadeias de Jamie’s Italian (se quiser manter-se fiel ao chef britânico), o Viajante, restaurante do português Nuno Mendes que tem uma estrela Michelin.

Depois de comer e beber, o melhor é continuar a caminhar pelas “romanas estradas” do império: vá a Abbey Road ver onde os Beatles se deixaram fotografar na famosa passadeira para o seu 12.º álbum em 1969. Nada a ver com romanos: são mesmo bretões de melenas, vindos de Liverpool, mas que para Astérix e Obélix, perante a histeria desalmada das suas fãs, pode ser um bom exemplo a seguir lá na Gália pelo bardo de serviço, o homem da harpa, Cacofonix.

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