[Astérix à Volta do Mundo: "Astérix entre os Bretões"]
Se o leitor atravessar hoje a London Bridge, de sul para norte, talvez não se aperceba que há mais de dois mil anos Júlio César atravessava o Tamisa precisamente no mesmo lugar. Londres, ou Londinium, foi fundada no ano de 43 (quase 100 anos depois de César lá passar), e no mesmo local onde hoje está a London Bridge estava a primeira ponte romana da futura capital britânica.
César, imperador romano, chegou à ilha da Bretanha no Verão de 55 a.C.. Primeiro numa “visita” de reconhecimento, seguindo-se uma invasão um ano depois, com mais de 25 mil tropas legionárias. Mas a primeira estadia dos romanos na ilha não durou muito tempo e, apesar das sucessivas batalhas com os “bárbaros” bretões, as zonas conquistadas não passaram da área de Kent, no Sul, junto ao Mare Britannicum.
Parece que César e as suas tropas se depararam com uma força com que não contavam: o apoio dos gauleses e, em particular, dos guerreiros Astérix e Obélix, que já tinham dado muitas dores de cabeça aos romanos defendendo a sua aldeia no norte da Gália, onde construíram um pequeno foco de resistência às investidas imperialistas de Roma.
Astérix e Obélix chegam, então, à Bretanha sozinhos, sem a sua entourage gaulesa, para ajudar um primo afastado de Astérix, Jolitorax, da tribo dos Cambridge, conhecidos como excelentes remadores e resistentes ferozes à invasão romana. Jolitorax sabia que naquela pequena aldeia no Norte da Gália reinava a paz devido a uma incrível poção mágica que o velho druida Panoramix preparara: “A poção que confere uma força sobre-humana a quem a bebe.” A mesma força de que os bretões precisavam agora para lutar contra o cruel exército de César.
A cidade de Londres ainda não existia. A norte do Tamisa, os bretões eram comandados por Cassivellaunos, cujo nome proto-celta vinha de kaddi (paixão, amor ou “cabelo comprido”) e wenamon (líder e soberano). César menciona Cassivellaunos no seu diário de guerra, Comentário sobre as Guerras na Gália, e pinta-o como um cruel bretão que, apesar de representar várias tribos a norte do rio Tamisa, liderou guerras constantes com tribos mais pequenas que rapidamente traíram o seu líder e se renderam a César, permitindo que aos romanos cruzassem o rio.
Na verdade, Cassivellaunos não era um cruel bretão. O seu exército era simplesmente (como dizê-lo?) britânico: parava todos os dias às cinco da tarde para “beber água quente”, às vezes com uma “pinguinha de leite”; trabalhava apenas de cinco em cinco dias, parando dois, porque era “fim-de-semana”. Estes costumes “prejudicavam eficácia de combate” dos bretões. Os romanos não respeitaram as regras e avançaram sem piedade.
Tudo ao contrário
Apesar de ser Verão, o exército de César deparou-se com o já “clássico” clima britânico: chuva e nevoeiro. Um nevoeiro súbito que submerge toda a cidade numa espécie de penumbra, ideal para que os bretões pudessem organizar a sua resistência, com Astérix e Obélix, e assim passar invisíveis diante dos romanos.