Fugas - viagens

  • Adriano Miranda
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Dentro de uma Rússia há sempre outra Rússia

O grande mosteiro

O dia seguinte é dedicado a uma paragem em Goritsy, para visitar a grande atracção local: o esplendoroso Mosteiro de São Cirilo do lago Branco. Do cais ao mosteiro, vamos de autocarro pelo campo, um curto passeio que nos deixa às portas do mosteiro, onde, à parte ainda vivem dez monges em clausura e nas redondezas cresceu a vila de Kirillov. À beira de um lago glacial, o Siverskoye, o mosteiro remonta ao século XIV e foi crescendo. Hoje é uma imensa área fortificada com onze igrejas centenárias e catedral. As propriedades espalhavam-se por 12 hectares, um verdadeiro museu vivo nacional (com uma colecção impressionante de iconografia), herança histórica desta fortaleza que atravessa a história e cultura do país, não apenas pela religião, embora seja ainda meca de peregrinações e muitos passeios.

A grandeza do mosteiro descobre-se a cirandar até que, talvez cansados já de tanta poderosa e santa arte e arquitectura, saímos para a beira do lago, para o seu frescor glacial. Um casal passeia com os filhos que brincam na água e o quadro tem a sua formosura natural. O fotógrafo sorri-lhes e eles sorriem para a fotografia, há ali um momento qualquer de beleza e paz e todos nós percebemos essa linguagem universal.

Ilhas que são museus

Para os próximos dois dias de navegação temos direito a diversões únicas. Se num temos Kizhi, na região de Carélia, noutro brilha Mandrogui, numa margem do rio Svir. Em comum, dois pontos singulares em formato ilha-museu. A Kizhi chegamos a meio da tarde, depois de um dia passado como se em alto-mar, graças ao cruzamento do grande lago Onega, onde por vezes a vista só alcança água, de vez em quando uma ilha (há mais de 1600…). Onde estão as margens? A meio da tarde aportamos numa fresca ilha (estão 11 graus, a paragem mais fria da viagem), quadro a verde e madeira, com tempo para deambular por esta língua de terra que até se podia calcorrear toda: são 7km de comprimento, 500m de largura. 

A ilhazinha foi povoada durante séculos até ser abandonada nos tempos da colectivização e tornada museu ao ar livre nos anos de 1950, uma mostra etnográfica da região da Carélia. Tudo por aqui é um hino à construção em madeira — 83 monumentos assim feitos — é também património UNESCO: além da reconstrução dos edifícios locais, foram também para aqui trazidas casas históricas da região. Enquanto ouvimos as batidas na madeira de uma igreja em reconstrução e os sinos a repicarem, passeamos por uma grande casa familiar de agricultores, por igrejas, moinhos e celeiros. A jóia da coroa é a Igreja da Transfiguração, com 22 cúpulas e 37m de altura, um dos maiores edifícios do mundo em madeira (e não tem nem um prego, garantem). Já ardeu e foi reconstruída, o que impressiona ainda mais. Mas há também a mais velha igreja russa, a igreja de São Lázaro, ou a rica em frescos igreja da Intercessão da Virgem. Para assegurar os serviços da ilha, mais de 200 pessoas vivem aqui na temporada alta, incluindo artesãos que vamos encontrando a trabalhar, como o carpinteiro Eugeni, vestido como há 300 anos, talhando madeira — entre outras peças de arte, vai também fazendo as “escamas” com que são feitas as cúpulas das igrejas.

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