Fugas - viagens

  • Adriano Miranda
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Dentro de uma Rússia há sempre outra Rússia

Cruzamos avenidas de ouro, calcorreamos a rua dos milionários (adivinhe porquê o nome…), paramos frente ao esplendoroso teatro Alexandrinsky para olhar a estátua de Catarina enquanto fugimos à chuva e nos preparamos para o museu dos museus, o Hermitage, herança máxima de Catarina, de olhos arregalados. Por mais imagens vistas, por mais factos sabidos, o espanto é o espanto, apesar da multidão (a tal ponto que a guia nos avisa: “Atenção aos carteiristas dentro do museu”…). Repartido agora por uma dezena de edifícios, com epicentro no imponente Palácio de Inverno, antiga residência dos czares, dispensará apresentações mas ainda assim citamos: “São mais de duas mil salas, a colecção toda tem mais de três milhões de peças, precisaríamos de anos e anos, uma vida inteira”, suspira a guia. Temos uma duas horas, suspiramos nós. De toda a pintura deste mundo aos frescos, do luxo ao lixo, do chão ao tecto, sala a sala é um tesouro contínuo.

Como o é a própria cidade, tanto vista da outra margem como das profundezas e artes do seu impressionante metro, onde nos deu gosto perdermo-nos. E entre os vislumbres da imponência da catedral de São Isaac, da impressionante catedral de Kazan ou da igreja do Sangue Derramado, seguimos pela História até à estação Finlândia, onde uma estátua de Lenine marca o local onde o líder chegou para fazer um discurso que mudaria a história do mundo.

O choque dos tempos faz-se também nesta viagem e de outras maneiras. Sentados no salão do luxo palaciano do Hotel Astoria, onde Hitler planeava fazer a festa da derrota do exército russo e onde reinaria a elite comunista, na praça nobre de São Isaac, bebemos um chá de 500 rublos com os olhos na História e noutras viagens. À minha frente, Adriano, o nosso fotógrafo, que ficou instalado no hotel em jovem com os avós há 35 anos, vagueia o olhar pelas salas e eu sei que se está a ver, adolescente, a passear pelos corredores com os avós. O olhar dele transpõe os tempos. “Ali naquela mesa era onde almoçávamos.” O nosso olhar transpõe os tempos. Com os dias contados na Rússia, olho para Adriano e quero imitá-lo. Sim, é preciso voltar para descobrir mais Rússias e então, nessa nova viagem, voltar a navegar esta.

A Fugas viajou a convite da Agência Abreu

 

Guia prático

Como ir

A Fugas viajou a convite da Agência Abreu, que comercializa este cruzeiro da Mosturflot desde 1430 euros (já com voo). O voo para Moscovo foi feito via Amesterdão com a KLM, companhia preferencial da agência para este trajecto (de Lisboa ou Porto). Temporada de cruzeiros de Maio a Setembro.

Informações

No barco, todas as refeições estão incluídas (excepto as bebidas), assim como visitas guiadas — há ainda a possibilidade de adquirir visitas extras ou idas a espectáculos como o Lago dos Cisnes. Os preços variam entre cerca de 40 a 90 euros, conforme a opção. Manda ainda a tradição que no fim do cruzeiro se dê uma gratificação por cada passageiro (em geral, 50 euros). Os transfers barco-aeroporto estão incluídos (nós não tivemos problemas mas outros portugueses, vindos via outras agências, tiveram dificuldades à chegada, previna-se e guarde os contactos locais).
O visto turístico para a Rússia obriga a vários documentos, sendo obrigatório também seguro. Para residentes em Portugal, poderá consultar toda a informação, formulários, taxas e documentos necessários em www.vhs-portugal.com. A agência também pode fazer este serviço (o pack visto + seguro obrigatório diário, no caso deste cruzeiro, fica assim por cerca de 160 euros).

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