Fugas - Viagens

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Três dias (e nenhuma noite) na ilha de fogo e gelo

Por Alexandra Prado Coelho

Nesse dia que nunca acaba mergulhámos na lagoa Azul, provámos tubarão podre e visitámos o local de um dos mais antigos parlamentos do mundo.

Aterramos na Islândia no dia mais longo. É precisamente meia-noite, entre domingo 21 de Junho e segunda-feira, 22, mas podia ser meio-dia. O aeroporto fervilha de gente, aviões a aterrar, outros a partir, gente à espera, gente puxando malas, gente trocando dinheiro, gente procurando um táxi. Lá fora, luz – não a luz clara do sol, mas um azul misterioso, uma cor de gelo que nos deixa estranhamente acordados.

E assim vai continuar nas horas seguintes, enquanto chegamos ao hotel, junto ao velho porto de Reiquejavique. Um enorme barco que está a ser arranjado ergue-se em frente do edifício, rodeado pela mesma luz azul. É preciso dormir, porque de manhã cedo partimos para o Norte da ilha, mas, apesar de corrermos as cortinas do quarto, a sensação de que a noite não existiu (nem vai existir nos próximos dias) perturba-nos o sono.

A multidão no aeroporto não tem a ver com o solstício de Verão. É assim há já algum tempo. A Islândia tornou-se moda e os próprios islandeses ainda estão estupefactos com a velocidade dos acontecimentos e a tentar encontrar uma explicação para o que aconteceu.

Curiosamente, na origem da súbita popularidade islandesa parecem estar duas más notícias: a crise financeira em que o país mergulhou, e da qual está lentamente a sair, e a erupção do vulcão de nome impronunciável, o Eyjafjallajökull, que provocou o caos no tráfego aéreo do Norte da Europa em 2010. As duas notícias colocaram a Islândia na actualidade e, de repente, os outros povos começaram a olhá-la com uma curiosidade inédita.  

A ilha gelada do Norte da Europa foi sempre um lugar particularmente calmo, com poucos habitantes e poucos turistas. Continua a ter poucos habitantes (actualmente são 328 mil, a grande maioria dos quais vive na zona de Reiquejavique), mas está a receber perto de um milhão de turistas por ano. E assim, aquele que era até agora o país dos vikings, dos vulcões, de Bjork e dos Sigur Rós, está a reinventar-se como destino turístico. Fomos ver como.

A lagoa

A lagoa Azul, um spa natural em Grindavik, a menos de uma hora de distância de Reiquejavique, tornou-se o maior ícone da Islândia. No ano passado recebeu 700 mil visitantes, ou seja, duas vezes o total de população da ilha. Apesar disso, o ambiente não é caótico (embora as reservas para a visita tenham que ser feitas com antecedência).

Passagem pelo balneário para vestirmos os fatos-de-banho e dirigimo-nos para a lagoa. O cenário é irreal. Das águas azuladas, rodeadas por rochas negras de lava vulcânica, desprende-se uma névoa que envolve as pessoas que, como fantasmas, caminham lentamente sem destino óbvio. Como os soldados de caras pintadas de branco que guardam Kurtz/Marlon Brando na sua fortaleza no final do rio em Apocalipse Now, também aqui as figuras despontam por entre a névoa com os rostos brancos.

Há uma explicação para este cenário onírico: estas águas marítimas são ricas em algas e em minerais como a sílica (que reflecte a luz do sol e lhe dá o tom azulado, quando na realidade a água é branca) e as pessoas são encorajadas a fazer uma máscara facial com a pasta branca que se pode retirar, com a ajuda de conchas de madeira, de pequenos nichos na pedra. A água (seis milhões de litros) está a uma temperatura entre os 37 e os 40 graus e em alguns pontos é quase demasiado quente. Duas raparigas percorrem a lagoa dando a experimentar os cremes naturais que se vendem no spa.

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