Paramos e entramos num bar. Ou melhor, ficamos pela esplanada sentados em banquinhos diminutos, rodeados por uma mesa, quase ao nível do chão. Pedimos um thé à la menthe, um chá de menta com pinhões. Servido quase a escaldar, por incrível que possa parecer foi o “refresco” ideal para o momento. Uma verdadeira obra de arte.
Subitamente, um som arrepiante capaz de nos congelar no calor da noite. O tradicional apelo do muezzin a marcar “ as horas” para a oração nas mesquitas circundantes ao nosso bar. A chamar os fiéis muçulmanos para a oração.
Estrategicamente colocados, bem no alto dos minaretes das mesquitas e espalhados pela totalidade da cidade, megafones apelam à presença maciça dos fiéis de Alá para a última oração do dia.
De todo impossível ficar indiferente ao som deste apelo. Um som tão cativante que o trouxe comigo, como recordação, no meu telemóvel.
- Vem rezar. Vem rezar. Vem rezar. Vem à mesquita rezar. Vem à mesquita rezar. Vem à mesquita rezar.
É só o que o chamamento diz e não mais do que isso, diz-nos a nossa guia turca Ilknur Türkyilmaz.
Um som que transmite uma paz quase celestial. Parecia o canto dos pássaros após passar a mais tormentosa das tempestades. Foi esta a sensação que tive. Eu, um infiel cristão romano.
23h25. Hora local, meia hora depois daquele “clic”. E ainda sentia uma melancolia esquisita de quem se vai embora mas fica sempre, sempre, com o som do muezzin dentro de si. E lembrei-me de o contar agora.
(Em agradecimento à minha guia turca, a senhora Ilknur Türkyilmaz)