Fugas - notícias

Um estilo "discreto, despretensioso"

Por Paulo Amorim

No Outono de 1992, quando, como responsável do G7 - Grupo dos Sete, organizei a primeira deslocação ao estrangeiro de produtores portugueses de vinho acompanhados por jornalistas nacionais, tive oportunidade de viajar com o David pelos países nórdicos e de com ele conviver de manhã à noite.

Sendo certo que é nestas vivências mais intensas que melhor nos apercebemos do carácter de alguém, logo aí constatei o seu estilo - discreto, despretensioso, nunca alardeando o seu muito saber mas sempre disponível para o partilhar e muito rigoroso na forma como falava das coisas. A partir daí estabelecemos uma cumplicidade que muito me honrava. Quando estive na Viniportugal, pedi-lhe ajuda para os textos do projecto Alma Latina, que iniciamos aquando da Expo 98 e o que o David escreveu é uma peça notável sobre os vinhos portugueses e todo o universo telúrico que os rodeia e que tem a ver com aquilo que somos enquanto povo.

Ao longo dos anos estivemos muitas vezes juntos em eventos ligados ao vinho e eu, sempre que possível, procurava sentar-me a seu lado e deliciava-me com a forma apaixonada como falava sobre restaurantes e gastronomia e com as estórias dos seus tempos de maior engajamento político. Sempre notei também que o David era extremamente considerado e respeitado pelos seus pares jornalistas. Para isso contribuía não só a sua forma de ser mas sobretudo o seu profissionalismo e a isenção e rigor com que escrevia.

No passado dia 13 de Abril, estive num jantar no qual o David deveria também ter estado, porque nunca tinha faltado aos jantares desse grupo de amigos. Já muito doente, tinha sido operado nessa manhã e todos nós falamos sobre ele com grande admiração, brindamos à sua rápida recuperação e assinamos, para lhe oferecer, uma garrafa de um dos grandes vinhos do mundo. Mas a vida é infelizmente assim e o David já não vai ter oportunidade de abrir essa garrafa. O que não impedirá que os seus amigos continuem a brindar à sua memória e a transmitir o seu exemplo a quem nunca teve o privilégio de o conhecer. 

Obrigado e até sempre David!

{Paulo Amorim, administrador da Vinalda} in Público (29.04.2011)

 

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