Situada dentro do Jardim Botânico da Ajuda, a Estufa Real serve um dos mais caros brunches de Lisboa. Justificam-se os 37 euros que cobra? Custa dizê-lo, mas há que admitir que sim, por elevado que seja o preço.
Seja pela variedade e qualidade da oferta, seja pelo ambiente palaciano em que o cliente emerge. Por um momento, somos reis e rainhas, príncipes e princesas na grande sala envidraçada com vista para o jardim escondido de vegetação luxuriante. O segredo é ir cedo, com todo o tempo do mundo, e reservar o resto da tarde para aproveitar um higiénico passeio no recinto, que depois de tamanho banquete é preciso desmoer a refeição. Conte com um bom bocado de tempo para ir apreciando, com vagar, as diferentes especialidades gastronómicas.
À chegada, o comensal é brindado com uma taça de champanhe. As restantes bebidas são pagas à parte, à excepção dos sumos do buffet. "Quer mais uma taça?", oferece, solícito, o empregado. Por conta da casa, cai que nem ginjas em cima das ostras.
Há vidas mais difíceis... Passar aos pitéus seguintes do menu exige uma força de vontade quase desumana, e não é só por causa dos moluscos. É que a cavala fumada e o paté de marisco caseiro são manjares capazes de comover as almas mais empedernidas. É preciso disciplina, sob pena de não se conseguir chegar ao fim da exigente prova. Um dos mais recentes mimos do chefe dá pelo nome de empada de perdiz, galinha e sultanas.
As tentações não acabam, da tábua de queijos nacionais e estrangeiros aos suculentos nacos de novilho com pimenta e arroz árabe, agora do lado dos quentes. Apenas os filetes de peixe-galo com arroz de marisco, a saberem a caldo Knorr, se mostraram pouco dignos do cerimonial pantagruélico. Com o poucochinho espaço que resta no estômago, resta rumar aos doces: pudim de ovos, farófias, molotof...
Ovos e bacon? Também há, pois. Mas quem quer saber disso quando há ostras e champanhe?
Restaurante Estufa Real. Jardim Botânico da Ajuda, Calçada do Galvão Tel.: 213619400 Domingos e feriados, das 12h30 às 16h00 Preço: €37, bebidas pagas à parte, à excepção dos sumos; as crianças dos três aos dez anos pagam metade. www.estufareal.com
Noobai
Parece um brinquedo no meio do rio, o barco lá em baixo a rumar à outra banda. Visto daqui, o comboio a caminho de Cascais também se transforma numa inofensiva miniatura. "Prefere os ovos mexidos com queijo fresco ou com farinheira?". Por momentos é preciso descer à terra e desviar os olhos do panorama magnífico que se desfruta da esplanada do bar Noobai, em pleno miradouro do Adamastor, donde se avista o casario, o Tejo e tudo. Esta ainda continua a ser uma das melhores vistas da cidade, por muito que a cobertura retráctil que substituiu os antigos chapéus de sol de lona seja tudo menos bonita. "Pode ser com queijo fresco". A escolha não podia ter sido melhor: cozinhado com os ovos, o queijo fresco ganhou uma textura espectacular.
Quando chega o tabuleiro com a comida, é difícil não recordarmos as viagens de avião do tempo em que as companhias nadavam em dinheiro e a expressão low cost ainda não fazia parte do jargão aeroportuário. Nos diferentes compartimentos há pão com sementes, salmão fumado, quadradinhos de queijo fresco, tomate, uvas, doce, pepino, manteiga... A proximidade dos elementos convida a misturas menos convencionais. Será que o salmão se queixava se fosse barrado com um bocadinho de doce? Só um pedacinho pequenino... Afinal, quando se nos oferece um sumo de morango com basílico - também pode ser de melão, laranja ou outro sumo natural, conforme a época - a imaginação não pode ter limites.