A Comidinha
Alguns recantos algarvios ainda têm segredos bem guardados em moradas onde os pratos são de apuro e confecção tão singela quanto esmerada. Para uns, será este tipo de “segredos” que permite “resguardar” alguns locais de enchentes forçadas que os possam descaracterizar, mas os segredos, no fundo, são para manter até poderem ser partilhados com quem os merecer. E o que dizer quando ainda há locais “quase” secretos a poucos passos do mar, e com o centro de Lagos a seus pés?
Falamos do restaurante A Comidinha, anichado numa zona residencial da parte alta da cidade, que preserva um reportório culinário difícil de encontrar desde a ponta extrema do barlavento até aos confins do sotavento. A casa comemora em Novembro 20 anos de uma existência discreta, mas consolidada no melhor da cozinha tradicional com alguns toques pessoais e uns quantos pratos de origem africana.
O espanto na qualidade de confecção fica logo por conta de uma canja de peixe-galo ou as suas ovas em salada (quando as há), os carapaus “alimados”, a feijoada de búzios ou um indelével rabo de boi estufado com especiarias. Para mais incursões na alma da região, há lulas cheias (recheadas), coelho em vinho tinto, carne de porco com amêijoas, mão de vaca com grão — e apetece dizer tudo o resto que a gula comportar na imaginação. O ambiente é descontraído e a decoração feita pela extensa e criteriosa garrafeira garrafeira. O anfitrião domina a oferta vínica algarvia, mas sem dogmas em relação a outras regiões, pois o importante é propor o vinho adequado ao prato pedido. No serviço, o arranque pode ser brusco, mas no fundo acaba por ser prestável, com a variação de humor a ser a catarse para uma conversa informada e de opinião “afiada”. [Fortunato da Câmara]
Praça do Poder Local, Lote 5, ?loja B. 8600-254 Lagos. Tel.: 282 782 857. Encerra à segunda-feira.
Café Correia
Não se esperem pressas ou grandes mordomias neste restaurante simples, ao estilo do típico café central que se encontra um pouco por todo o país. O que interessa é, apenas e só, o que lá se come. Outro aviso: apesar da proximidade ao mar e de a casa atrair muitos turistas, não se peçam peixes grelhados, que o mais provável é que a resposta soe mais a convite para sair porta fora que a outra coisa qualquer.
No Café Correia a comida é de tacho, com os produtos da Costa Vicentina, frescos e de temporada, e sempre preparados “à Correia”. Ou seja, pela mão do proprietário que é a alma e o segredo da casa e sem outro tipo de explicações ou preocupações. Os pratos demoram sempre uma boa meia hora, no mínimo, já que tudo é confeccionado depois do respectivo pedido. Não se servem também doses mínimas ou “só para experimentar”, já que, claro está, tudo é feito “à Correia”, o que significa doses generosas — e, sobretudo, bem saborosas — e as experiências são coisa que não rima com o ambiente da casa.
Num estilo que se diria fazer muito bem a fusão entre o Alentejo e o melhor da tradição algarvia, a cozinha do senhor Correia mais que justifica a visita. Com uma visão bem mais actual, o filho trata da garrafeira, que proporciona escolhas amplas e ajustadas, enquanto a mulher, dona Lilita, cuida de aturar a clientela no seu estilo peculiar e que está longe de primar pela simpatia.
Há muito que as percebes, quando as há, são o cartão-de-visita da casa, mas também a sopa, arroz ou massada de peixe, as lulas recheadas, o polvo ou frango em tomatada ou o coelho à Correia fazem as delícias da clientela. Haja calma, que a satisfação é garantida. [José Augusto Moreira]
Rua Primeiro de Maio, 4. 8650-425 Vila do Bispo. Tel.: 282 639 127 ?(não aceita reservas). Fecha aos sábados