Será um campeonato de futebol? Humm.. talvez a final do Mundial. Ou estaremos nos momentos finais da maratona nos Jogos Olímpicos? Pelo ruído que chega aos stands da SIRHA, a feira da indústria da restauração, em Lyon, o que se passa dentro do auditório, ali ao lado, só pode ser algo dessa dimensão.
Entramos e o ruído aumenta ainda mais. As bancadas estão completamente cheias com as claques de vários países — é fácil perceber porque estão pintados literalmente até aos cabelos com as cores nacionais e porque agitam enormes bandeiras, enquanto lançam gritos e cânticos de incentivo. Estamos na final da 15.ª edição do concurso de cozinha Bocuse d’Or.
E quem são os “atletas”? À frente do público, em 12 boxes, estão as equipas dos diferentes países (a competição dura dois dias e há 12 equipas em palco em cada dia, ou seja, há 24 finalistas de entre 60 selecções nacionais), com os concorrentes vestidos de jalecas brancas e chapéu alto de cozinheiro nas cabeças. Todos têm um ar concentrado e dedicam-se metodicamente às suas tarefas: lavar e limpar legumes, filetar a truta e tirar-lhe as espinhas, tirar a pele à pintada (tal como a truta, a galinha pedrês foi um dos produtos oficiais deste ano).
Cada equipa tem um treinador, com a palavra coach escrita em letras grandes nas costas, que vai controlando os tempos, apontando erros, não deixando que o candidato se distraia ou esqueça algum passo. Não deve ser fácil manter a concentração numa boxe de 18 m2 quando há um batalhão de jornalistas à volta a fotografar, os membros do júri andam por ali espreitando o trabalho de cada um e tomando notas, atentos a falhas, e nas bancadas o público grita como se não faltassem ainda várias horas para a prova terminar — 5h35 a cozinhar em cada dia.
Ainda falta algum tempo, portanto, e aproveitamos para ir até às bancadas perceber quem são os fãs que enchem o auditório. As claques mais entusiásticas este ano são, sem dúvida, as nórdicas. Os noruegueses parecem uma verdadeira invasão viking: capacetes com cornos, bandeiras vermelhas, azuis e brancas e cabeleiras postiças aos caracóis. E, nas mãos, uma folha com um hino de apoio que, de vez em quando, cantam a plenos pulmões.
Ao lado deles, os japoneses, com kimonos azuis e fitas brancas em torno da cabeça, batem com colheres umas nas outras fazendo uma barulheira de apoio à sua selecção. Seguem-se os dinamarqueses, todos de vermelho e branco, que lançam no ar papelinhos com a sua bandeira de cada vez que os apresentadores no palco lhes perguntam se ainda estão presentes. Logo a seguir surge uma mancha laranja — são os holandeses. E, lá mais para cima, uma verdadeira orquestra de instrumentos de sopro identifica-se imediatamente quando, de tempos a tempos, começa a tocar o Rule, Britannia!
Escandinavos e asiáticos
Kristine Hartviksen, presidente da Associação Norueguesa de Chefs, está sentada numa bancada, segurando uma bandeira. “Estar aqui é muito importante para a Noruega”, diz. “Para mostrar a nossa cultura, o peixe, a carne, os nossos produtos, a nossa história.” É por isso que há 600 noruegueses em Lyon neste momento, muitos dos quais meteram férias e pagaram do próprio bolso, e estão a preparar uma enorme festa para essa noite.