Fugas - restaurantes e bares

  • Nuno Ferreira Santos
  • Nuno Ferreira Santos

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Há mais mundo para comer? Claro que sim, dizem Josh e Roberto

E essa pistolinha que trazem aí com um líquido castanho? Josh sorri. Trata-se de castóreo, extracto de glândula de castor usada por este para impermeabilizar a sua pelagem. Lança um pequeno borrifo para o ar e rapidamente o cheiro invade tudo, entrando-nos pelo nariz e instalando-se aí. É um aroma estranho, difícil de definir, mas Josh confessa que criou o hábito de o cheirar e que gosta até que o saco onde o transporta já tenha ganho esse cheiro. E serve para quê? Bem, explica Roberto, não será para pôr na comida, mas por que não lançá-lo no ar a acompanhar um prato que pretenda representar a floresta?

“Este é um produto que já é usado em alguns perfumes e para pôr, em spray, sobre charutos, para lhes dar um aroma de folhas secas”, continua Roberto. “Quando fazemos comida podemos interagir com vários elementos e um deles pode ser o cheiro de um animal que nem sequer está no prato. O que é importante é abrir o debate relativamente a uma coisa tão íntima como é pôr alguma coisa na boca e comê-la, torná-la parte de nós.”

O que Josh e Roberto querem é “tornar as pessoas mais curiosas” e também “fazê-las perceber que o que comemos pode ter muitas implicações, porque se só comemos uma coisa a nossa agricultura só vai produzir uma coisa”.

Tudo pode servir para alargar esta nossa visão do mundo comestível – e, preferencialmente, delicioso. Claro que, admitem, “a palavra ‘delicioso’ é como a palavra ‘beleza’, não existe uma definição única e universal”. O importante é que a tal paleta de sabores seja cada vez maior. No fundo, que a nossa biblioteca esteja cheia de livros diferentes, porque ler sempre o mesmo é, temos que o reconhecer, um aborrecimento.

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