Outra coisa que separa as gastronomias do Norte das do Sul é o facto de as primeiras usarem mais cereais (e daí os pequenos pães chineses que também se podem comer no Mr. Lu), enquanto no Sul é o arroz que domina. Além disso, Shangdon é conhecida pela qualidade do vinagre que produz. Entre as mais de 30 técnicas associadas a este tipo de cozinha, está uma conhecida como “bao”, que significa fritura rápida a temperaturas muito altas, com grandes chamas.
Perguntamos se há uma lista diferente para os chineses e a mulher do senhor Lu vai buscá-la. Apontando para os caracteres chineses, indica os pratos que são pedidos geralmente pela comunidade chinesa e que a maioria dos clientes portugueses nem sabe que existem: rins, coração ou intestinos de porco (a cozinha de Shandong também se caracteriza pelo uso de grande variedade de miudezas), línguas de pato, tofu com “ovo preto” (ovos de pato) ou patas de galinha, sem os ossos e com um molho picante.
A empregada continua a traduzir, com um grande sorriso, explicando que Lu é filho e neto de cozinheiros, dedica-se à cozinha há 30 anos (chegou a Portugal há 12 anos e abriu este restaurante há um ano e meio) e “ganhou um prémio de cozinha na China”.
Depois do sucesso deste espaço aberto em 2014 (aos fins-de-semana é difícil conseguir lugar), Lu e a mulher vão abrir um novo restaurante, não muito longe deste, na zona de Arroios. A lista “vai ter muitos pratos novos criados pelo Mr. Lu”. E aí, entre clássicos e novas criações, os portugueses vão poder aprofundar o seu conhecimento de uma cozinha chinesa mais genuína.
Mr. Lu
R. António Pedro, 95 (Arroios), Lisboa
Tel.: 21 352 0613
Todos os dias das 11h às 15h ?e das 19h às 24h
Preço médio: 15€
Um mundo chinês em Marvila
Em Marvila, um grande armazém pintado de cor-de-rosa no exterior esconde um inesperado universo chinês. Dinastia Tang é o restaurante da portuguesa Marisa Cerqueira e do marido, chinês, Binlu Zhu, de portas abertas desde Maio do ano passado.
“Queríamos oferecer a cozinha chinesa autêntica. É uma cozinha tão boa, para quê estar a alterá-la?”, pergunta Marisa, enquanto nos convida a entrar pelo andar térreo do armazém, que foi até há pouco tempo usado para eventos (a ideia era que servisse para casamentos chineses) mas que será agora adaptado a bar.
Para chegar à parte nobre do Dinastia Tang é preciso subir as escadas. Aí, num espaço muito grande, com janelas altas, encontramos desde molduras com trabalhos em prata da minoria chinesa dos Miao (o marido de Marisa tinha na China uma loja dedicada a esta arte) até painéis de barro incrustados na parede representando artes tradicionais chinesas, passando por mesas e cadeiras ao estilo da dinastia Ming, elaboradas cabeceiras de cama chinesas que são usadas como divisórias criando recantos, uma curiosa liteira, delicados arranjos de flores, até ao enorme arco em madeira trabalhada mandado fazer na China mas montado em Portugal.
“Trouxemos dois contentores e meio cheios de peças para a decoração do espaço”, conta a proprietária. Porque o Dinastia Tang não é apenas um restaurante/salão de chá – é uma forma de trazer um pouco da cultura chinesa para Lisboa. Por isso, em breve vão começar a vender peças de artesanato e também passar a ter música tocada ao vivo por uma artista chinesa num guzhen, o lindíssimo instrumento tradicional que agora descansa silencioso em cima de uma mesa.