Querendo manter tudo o mais genuíno possível, o restaurante começou por não ter doces como sobremesa, porque os chineses comem apenas fruta no final da refeição. No entanto, por causa de alguma pressão dos clientes portugueses, há agora duas sobremesas na carta e é possível que surjam mais uma ou outra. Mas, garantem, estas serão as únicas cedências. Tudo o resto é 100% chinês.
The Old House
Rua da Pimenta, 9, ?Parque das Nações, Lisboa
Tel.: 218 969 075
Todos os dias das 12h às 15h ?e das 19h às 23h
Preço médio: 20€
Chá e bolinhos recheados
Yum Cha significa “beber chá” e esse é um hábito muito enraizado entre os chineses. Mina Holland explica no seu livro Atlas Gastronómico que “a refeição cantonesa gira em torno do ritual do yum cha, durante o qual pequenos acepipes são degustados com chá”. Os dim sum, expressão que significa “tocar o coração”, são “pequenos bolinhos ou pastéis recheados de carne, marisco e vegetais” que podem ser cozidos ao vapor ou fritos e nasceram para acompanhar o chá.
E são precisamente os dim sum as estrelas do restaurante Yum Cha Garden – que abriu há cinco anos em Oeiras e que no último Verão se expandiu para Lisboa, instalando-se na zona das Amoreiras. A dona, Vivian, é chinesa e pede-nos desculpa por não falar português tão bem como gostaria, remetendo-nos para Ricardo, que trabalha no restaurante de Oeiras. É ele quem nos conta que muitos portugueses fazem uma refeição só com dim sum, mas que não é esse o hábito dos chineses, que preferem comê-los ao pequeno-almoço ou ao lanche e que no restaurante pedem um dos pratos grandes.
Aqui ainda há uma lista para chineses e outra para portugueses, mas a única diferença é que os pratos da primeira têm “sabores mais tradicionais”, explica Ricardo, e utilizam mais as “miudezas”. Mas é possível encontrar na carta “dos portugueses” pratos como uma fresquíssima salada de medusa (alforreca), com coentros frescos. Ou patas de galinha com feijão preto, feitas com um molho bem apurado de malagueta e cebolinho – mas pouco picante, como é, aliás, a comida típica de Cantão, que na China é também chamada de cozinha Yue.
É também uma cozinha onde o peixe fresco é muito utilizado, assim como os mariscos, e o molho de ostra, que surge em muitos pratos cantoneses. Mas a preocupação é a de manter o sabor natural dos alimentos, evitando cozinhá-los de mais ou escondê-los sob molhos muito pesados. Um dos grandes sucessos da casa, para além dos dim sum, é o pato à Pequim, servido inteiro e de pele bem crocante.
Na sala do Yum Cha, com vistosas paredes de cor vermelha, vêem-se muitos chineses, mas, segundo Ricardo, a maioria dos clientes são portugueses (sobretudo no restaurante de Oeiras, onde constituem 85% da clientela).
Se é certo que há muitas décadas que a comida chinesa se tornou familiar para os portugueses, a verdade é que ainda não conhecíamos bem a mais genuína culinária da China e das suas diferentes regiões. Agora já não há desculpa para não a descobrir – e, como o conhecimento aproxima, é possível que um destes dias deixe de haver uma ementa para portugueses e outra para chineses e todos possamos partilhar os mesmos sabores.