Fugas - restaurantes e bares

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Adega: como o guia Michelin se rendeu à comida tradicional portuguesa

Por Mara Gonçalves

Receituário tradicional, técnicas modernas, produtos frescos e um serviço cuidado. David Costa e Jéssica Carreira pesam os ingredientes que terão levado o restaurante Adega, aberto há menos de um ano, a conquistar a primeira estrela Michelin de São José, nos EUA.

Têm sido dias “completamente loucos”. Por vezes, ainda dão por eles a pensar como terá sido possível. Em Dezembro do ano passado, quando o Adega abriu portas em São José, no estado da Califórnia, a conquista de uma estrela Michelin “nem sequer um sonho platónico era”. E quando o telefone tocou às 10h de 25 de Outubro para lhes dar a notícia “a reacção inicial foi de total descrédito”. “Um choque”, contam à Fugas.

“Achámos engraçado quando lemos há meses no Twitter que [os inspectores do guia Michelin] nos tinham visitado e que tinham gostado muito da comida e ficado impressionados com a lista de vinhos, mas como o Adega é um restaurante simples achámos que estava fora do radar do guia”, recordam. Não estava. E apesar do bairro mais português de São José, onde está localizado, “já não ser tão português como dantes”, este “retiro manteve viva a tradição local com os seus riffs lúdicos e contemporâneos dos clássicos da cozinha lusa”, descreve o guia Michelin.

Razões não faltam, no entanto, para o espanto inicial. Não é todos os dias que um restaurante aberto há menos de um ano por um casal de emigrantes com menos de 30 anos conquista uma estrela Michelin. Muito menos um restaurante localizado nos Estados Unidos com uma carta assente nos sabores típicos da gastronomia portuguesa, ainda muito subvalorizada e desconhecida lá fora. Inédito se recordarmos que esta é a primeira e única estrela alguma vez atribuída a um restaurante em São José, a terceira maior cidade do estado da Califórnia. 

A distinção, uma das mais importantes no universo da gastronomia, marca ainda um outro feito. Aos 23 anos, Jéssica Carreira, chef de pastelaria do Adega e filha dos proprietários, é uma das mulheres mais jovens de sempre a subir ao palco das estrelas Michelin. “A organização ainda está a tentar confirmar se é mesmo a mais jovem”, conta o pai e dono do restaurante, Carlos Carreira. No dia 17 de Novembro, os galardões serão entregues numa cerimónia oficial em Nova Iorque. A família Adega já tem os voos reservados.

Transformar os pratos sem lhes destruir a essência

Na nova carta de Outono do Adega, em vigor desde 2 de Novembro, os pratos surgem uma vez mais escritos integralmente em português, seguidos de uma breve descrição em inglês. Afinal, como é que se traduz caldo verde ou tripas à moda do Porto sem desvirtuar ou perder o sentido? E como é que pratos tão tradicionais – e, no caso da iguaria portuense, até longe de agradarem a todo e qualquer palato luso – conquistam os clientes norte-americanos e, em particular, os inspectores do guia Michelin? 

O segredo, acreditam, está antes de mais na diferenciação. “Estamos conscientes de que há milhares de restaurantes e alternativas, por isso tentamos oferecer uma experiência aos nossos clientes. Tratamos o mundo da restauração à semelhança do mundo do espectáculo”, começam por enumerar. A “preocupação com a qualidade dos produtos e a satisfação absoluta do cliente” são regras de ouro. Além disso, a comida chega à mesa com um cuidado especial no empratamento, o elevado número de empregados de mesa permite um serviço quase personalizado e a carta de vinhos inclui mais de 300 referências, todas portuguesas.

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