Fugas - restaurantes e bares

  • Procópio
    Procópio Nuno Ferreira Santos
  • Foxtrot
    Foxtrot Nuno Ferreira Santos
  • Cockpit
    Cockpit Nuno Ferreira Santos
  • A Paródia
    A Paródia Miguel Manso
  • Americano
    Americano Miguel Manso
  • Finalmente
    Finalmente Miguel Madeira

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Estes bares "espelham a cultura lisboeta"

No Foxtrot, Francisco Gonçalves, 66, viu um dos filhos casar-se em pleno bar, há quatro anos. “Veio aqui a conservadora do registo civil. Foi maravilhoso, lindo”, recorda. O outro filho é desde 2009 o barman principal do espaço. “Trabalhei dez anos num banco, mas a seguir à crise de 2008 decidi vir ajudar o meu pai”, conta Hugo Gonçalves, 38 anos. O pai trabalha no Foxtrot desde 1988, é proprietário há dez anos. Hugo era ainda miúdo quando ali entrou pela primeira vez. “Lembro-me que era tudo gigante, lembro-me dos cheiros do bar, das pessoas a falar... vestiam-se melhor, as senhoras com decotes, tudo muito formal mas com um certo glamour.”

O tipo de clientes é o aspecto que mais tem mudado, conta Francisco Gonçalves. No Foxtrot, no Procópio, n’A Paródia. A faixa etária baixou muito. As classes altas que os frequentavam foram envelhecendo, afastando-se da vida nocturna. Outrora bares de eleição, os três espaços iam sendo preteridos pela movida do Bairro Alto, das Docas, de Santos, do Cais do Sodré. A noite expandiu-se e dispersou a clientela. Os mais novos procuravam o rock, a música electrónica, as drogas. Os veludos e os bibelots dos anos 1920 eram coisas de velhos. Hoje, as redes sociais dão uma ajuda, inovaram-se algumas bebidas, incluíram-se outros petiscos. A porta fechada “é meio caminho andando para a segurança” numa Lisboa “mais perigosa” e atraem cada vez mais jovens à procura de um sítio calmo onde começar a noite ou uma alternativa à confusão e à música aos berros. É fim-de-semana e os três estão apinhados. Um casal aqui, outro acolá, grupos de amigos, colegas de trabalho.

O cenário é semelhante no Cockpit, entre Roma e o Campo Pequeno. Foi clube privado dos trabalhadores da TAP até abrir-se ao público, no final dos anos 1970. Entretanto, começou a ver a vida nocturna da Alta de Lisboa descer para outros bairros, durante anos o movimento chegava para as mãos de Pedro Maurício. A esplanada veio trazer mais do dobro do lugares que se distribuem no minúsculo espaço, comprimido em cave, corredor e mezanino. Hoje trabalham ali mais quatro pessoas — e não têm mãos a medir. Uns servem às mesas, outro cozinha tapas, outro prepara bebidas. Há cinco anos “transformou-se num bar de gin” e tem mais de 100 referências penduradas em prateleiras no tecto. Quem vem aqui parar? Os que querem “fugir dos sítios mais modernos” ou procuram um “sítio mais recatado”, “muitas vezes para não serem incomodados”. Visitamos o Cockpit uma quinta e está cheio, voltamos numa sexta e entre mesas ocupadas e reservadas não cabe mais ninguém. “Volte a ligar dez minutos ou um quarto de hora antes de vir, pode ser?”

Mudar e ficar na mesma

Parar é morte certa. Mudar é desvirtuar e enterrar a história. Talvez esteja no ténue equilíbrio entre os dois o maior segredo para que a maioria nunca tenha fechado a porta. Dos sete por onde passámos, apenas o Americano esteve dois anos encerrado. José Carlos Barbosa devolveu-o ao Cais do Sodré em 2001. “É uma casa histórica. Passar aqui à porta e ver que tinha acabado era uma tristeza para muita gente. Quis tentar levantar a casa”, recorda. Aos 15 anos começou a trabalhar nos espaços geridos pela sociedade do pai, seguindo-lhe as pisadas. Em 1992 servia pequenos-almoços no British Bar, ficou muitos anos no restaurante Porto Novo. Até que veio para aqui, pela primeira vez por conta própria. “Ninguém vinha para o Cais do Sodré. Tinham medo, diziam que era perigoso.” Havia muita prostituição, de vez em quando a noite acabava em assaltos ou pancadaria.

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