No entanto, há que ir inovando, “para o cliente ver que não queremos parar, que queremos estar sempre a evoluir”. Para todos é determinante não ficar cristalizado no tempo e ir acompanhando as tendências que façam sentido em cada conceito. Novas tapas no Cockpit, fins de tarde com concertos de saxofone no British, uma nova carta de cocktails n’A Paródia, um novo espectáculo no Finalmente. É lá que terminamos a noite.
A discoteca nasceu em 1976, seguindo os passos de outras casas de transformismo que abriram em Lisboa no pós 25 de Abril. Hoje é o único espaço de Lisboa com espectáculos de travestismo a subir ao palco 365 dias por ano. São quase 4h quando os cortinados vermelhos se abrem e o show começa. “Ya llegó el Carnaval, vamos a bailar.” Estamos em vésperas de Entrudo e hoje o espectáculo é especial para assinalar a época. Cinco artistas travesti e um bailarino vão cantando em play back vários clássicos carnavalescos. Sambam lantejoulas, saias de folhos, purpurinas e sorrisos rasgados. No final, os seis sobem a palco para entoar “Bananas, bananas”, com um cacho à Carmen Miranda sobre a cabeça das cinco transformistas. A auto-ironia e a comédia à revista portuguesa continuam enquanto Deborah Kristal, cabeça-de-cartaz desde 2000, chama a palco as melhores máscaras da noite entre a plateia.
A sala está completamente apinhada e, apesar de pequena, tem espaço para tudo. “Digo sempre que esta é a casa mais difícil de trabalhar”, conta Fernando Santos (Deborah Kristal), director artístico e estrela principal do espectáculo. Desde o início que “recebe todo o tipo de público”, do “miúdo de Chelas que vem pela primeira vez ao ministro que cá vem todos os anos”. O espectáculo muda de tempos a tempos para continuar a cativar quem cá vem com frequência, mas a linha mantém-se. “Quero que os mais novos tenham hoje a possibilidade de ver um espectáculo como os que se faziam há 20 ou 30 anos.” Mas não é fácil agradar a todos e hoje a plateia está especialmente apática. “Tudo a bater palmas, suas bichas, vá, com mais força!”
Estes sete bares por onde andámos são hoje espaços míticos da cidade, todos eles abertos há mais de 40 anos, e ajudam a contar parte da história da capital portuguesa, de como a cultura, a noite e a sociedade foram mudando. Definia às tantas Hugo Gonçalves: “São lugares que espelham a cultura lisboeta”.