Tasca moderna dos anos 80
Damos um salto até à Baixa em direcção ao Pipa Velha. Desde 1981, diz no letreiro. À entrada está o piano que guarda aquele lugar desde que ali pousou, há uns largos anos. Nas paredes de pedra há cartazes da programação antiga das salas de espectáculo da cidade. Lá dentro, estão o Hendrix, o Nick Cave, o Leonard Cohen, o Iggy Pop ou o Lou Reed, mas também na parede, pintados em telas.
Pouco passa da uma da manhã e há poucas mesas livres. A selecção musical é a do costume. Vai de PJ Harvey e Coctaeu Twins a Nick Cave. Não é espaço para dançar, mas há quem fique de pé a bater o sapato, encostado ao bar.
Eurico Rocha anda de um lado para o outro. É o dono do bar fundado pelo pai, de quem herdou também o nome. Não pára, como sempre, mas é obrigado a ir parando. Do balcão para o jardim há alguém que encontra que acabou de entrar. Pára para cumprimentar, mais uma vez e mais outra. “Continuamos a ser uma casa familiar”, diz-nos, já com os braços pousados numa das pipas que servem de mesa. Dá para relaxar um pouco, agora.
“Seguimos a mesma linha do início”; o discurso é muito semelhante ao que nos foi dito em todos os outros bares por onde passamos, que preservam a identidade inicial. “Quando o meu pai abriu o bar queria que fosse uma tasca moderna onde se pudesse comer, beber e conversar”, recorda. E é “exactamente assim” que diz que continua a ser. Até há cerca de meia década não havia mais do que o Pipa na Rua das Oliveiras. “Há 35 anos um bar era confundido com bar de alterne”, diz. Entretanto, as coisas foram mudando. Basta pôr um pé fora do espaço para dar de caras com o movimento que há na rua e com o número de bares que ali existem agora.
Ali perto está o Teatro Carlos Alberto (TeCA) e também por isso o Pipa Velha sempre foi frequentado por gente do teatro. Nos primeiros anos do Fantasporto, quando ainda estava no TeCA, algumas das recepções aos artistas eram feitas lá. Continua a ser um espaço frequentado por actores e artistas no geral e também por políticos. “Se tivéssemos registado em imagem as pessoas que passaram por aqui e os momentos que aconteceram não chegava uma parede para afixar toda a história”, conta. Para Eurico não é fácil descrever o bar que é também a sua “vida”. Acontece o mesmo que sucede quando se fala de um filho a outra pessoa, “há o risco de não se conseguir manter a distância”. Do número 75 das Oliveiras foi vendo todos os outros bares surgirem à volta. O Pipa Velha “mantém-se discreto, preservando a identidade”, coleccionando tertúlias que se vão “arrastando noite dentro” nas mesas do bar entre um copo de vinho e um chouriço assado.
A Boavista é um Labirintho
Numa sala do 334 da Rua Nossa Senhora de Fátima, na Boavista, jogam-se dardos. Os alvos estão encostados a uma parede que já serviu de suporte para exposições. A sala é uma das antigas divisões da galeria que existia no Labirintho, de portas abertas desde 1987, que agora é uma sala de jogos, uma das novidades de um bar mítico da noite cultural portuense, que, após um período de indefinição, procura recuperar, há meia década, a identidade dos primeiros anos.