Fugas - Viagens

Manuel Roberto

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Macau - A corrida mais louca do mundo ainda vai a meio

Enquanto eles descem a uma velocidade vertiginosa, nós subimos num dos elevadores mais rápidos do mundo. Quando damos por ela, Macau está ali, aos nossos pés. São 360 graus de cidade, de paisagem, de vertigens. O último piso do edifício gira em câmara lenta e às tantas já não sabemos onde está a mesa de almoço. Desde que saibamos que a máquina fotográfica tem bateria suficiente, estamos descansados.

Êxtase. Êxtase talvez não seja a palavra certa, mas é a primeira que nos vem à cabeça.

Poupança, uma palavra proibida

Vamos assumi-lo sem rodeios: Macau não tem o encanto virgem do Oriente nem os pergaminhos do requinte europeu. Tem genes culturais cruzados e o resultado final está longe de nos fazer abrir a boca de espanto. Mas transborda de presença, de coragem para assumir o passado e enfrentar o futuro com as armas que estão mais à mão. E apregoa uma vontade irreprimível de comprar glamour.

"Bem-vindo a Macau" no cartaz à porta do terminal do ferry. "Bem-vindo a Macau" no sotaque vagamente português de um empregado do Sofitel at Ponte 16. "Bem-vindo a Macau" hoje e amanhã. No Inverno e no Verão. "Bem-vindo a Macau" porque a mesa está posta à medida do visitante. "Bem-vindo a Macau" porque sim.

Descemos do discreto mini-autocarro que nos acolheu de portas abertas desde a primeira hora e damos de caras com o exemplar Museu de Macau. Se existe uma explicação para o grande salto em frente do território, ela estará aqui. No terceiro piso, mais precisamente. Despachamos o sector das artes, espreitamos de longe o crescimento urbano e paramos na vitrina baptizada "Macau no século XXI". Which way is up? O que faz girar esta roda dentada? A resposta talvez não esteja à frente dos olhos, mas é-nos segredada ao ouvido: "O dinheiro, é o dinheiro que está a mudar tudo".

Aos poucos, vamos percebendo onde querem chegar. Não faz sentido poupar quando o objectivo é encher as medidas. Em 19 de Dezembro de 2001, era inaugurada aquela que ocupa ainda hoje o 10.º lugar no ranking das torres mais altas do planeta. Custou perto de 92,8 milhões de euros e oferece uma vista que se espraia por 55 quilómetros. Em Agosto de 2007, nasceu o Venetian Resort, com um super-centro comercial umbilicalmente ligado aos 3000 quartos do complexo, graças aos 1,7 mil milhões de euros investidos pelo multibilionário Sheldon Adelson. Nos primeiros meses de 2011, chega mais um concorrente: o Galaxy Cotai Mega Resort, os seus três hotéis e um casino dotado de 600 mesas de jogo e 1200 slot machines, tudo distribuído por uma área equivalente a 44 campos de futebol.

Mas deixemos a (suprema) excentricidade para mais tarde. Concentremo-nos, por agora, no património. Em cima deste chão, na Avenida Xian Xing Hai, já viveu o Pavilhão da Transição, essa lápide da icónica passagem de testemunho administrativo no já distante 20 de Dezembro de 1999. Quando Portugal bateu em retirada, o edifício, quem sabe se por uma questão de lealdade, seguiu-lhe as pisadas e foi desmantelado. Em Dezembro de 2004, ergueu-se em seu lugar o bem mais pomposo e difícil de memorizar Museu das Ofertas sobre a Transferência de Soberania de Macau. Para que não nos esqueçamos da grandeza da China.

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