Fugas - Viagens

Manuel Roberto

Macau - A corrida mais louca do mundo ainda vai a meio

Por Nuno Sousa

Uma região de fato de gala e em alta rotação. Uma região em forma de slot machine. Uma região que compensa em imaginação o que lhe falta em território. Viva o luxo!

A linha da meta é aqui. Não, a linha da meta é onde entendermos que deve ser. E o horizonte parece tão perto. E o Eldorado tão real que fazemos um esforço extra. Estamos quase, seja onde for que estejamos. Respiramos: mesmo que nunca cheguemos ao fim, o preço de viver o sonho é sempre um preço justo. Macau gira à nossa volta e é impossível não girar com ela.

"No photos, please." As câmaras são persona non grata dentro desta sala de jogo tamanho XXL. Estamos provavelmente na presença de um dos segredos mais mal guardados da história de Macau, mas regras são regras. "Business is business". Entrámos num centro comercial atrelado a um casino ou num casino atrelado a um centro comercial? É difícil encontrar uma resposta conclusiva.

Sim, já estamos nesse ponto. No ponto em que o jogo já não corre sozinho na pista, no ponto em que o jogo tem de olhar por cima do ombro para ver quem vem atrás. Não é que o estatuto de vício número 1 da região esteja em risco, nada disso - e este autocolante no autocarro que cruza o Leal Senado está aí para o atestar: "Linha aberta de aconselhamento para o vício do jogo". É somente uma questão de equilíbrio de forças, de reforçar o poder de atracção. Quanto mais isco tivermos na ponta da cana...

"Jogo, compras e entretenimento", deixa cair Alan Hills, chefe de fila do Cirque du Soleil versão Ásia. Ok, Macau não será apenas isto, mas, diz quem sabe, isto é o que mexe com Macau nos dias que correm. Não há por que monopolizar o mercado do lazer. Pode não haver espaço para tudo num território com 28,6 km2, mas há sempre espaço para a voz dos consumidores. E hoje eles falam em duchang (casino), gòuwù (shopping) e biaoyanhuì (espectáculo).

Em mandarim, sim, porque a criação pelo Governo chinês do Esquema Individual de Visitas, em Julho de 2003, abriu aos habitantes do continente as portas da cidade. Stanley Ho, por exemplo, explicou-lhes que eram bem-vindos quando reforçou a aposta numa frota de barcos de alta velocidade capazes de ligar a casa-mãe a Macau em pouco mais de 50 minutos. Não faltou quem mordesse o isco.

Basta olhar para as estatísticas: nesse ano, o número de visitantes cresceu três por cento, para um total de 11,8 milhões; em 2004, a indústria do turismo registou uma subida de 40 por cento; em 2005, Hong Kong foi pela primeira vez ultrapassada pela China como fornecedor maioritário de "clientes". Nunca mais recuperou.

É por isso, porque o interesse na região continua inflacionado, que nivelar o binómio oferta-procura tem o rótulo work in progress. As camas disponíveis passaram de 9514 em 1999 para 19.557 em 2009 (and counting), os 531 guias turísticos transformaram-se em 1335 (and counting), os passageiros no aeroporto internacional dispararam de 2,6 para 3,1 milhões (and counting).

Mas isto é apenas contabilidade. Serve para dar um cheirinho acerca do Big Bang turístico, mas não para sentir o pulso à cidade. Usamos o estetoscópio? Batimentos cardíacos acelerados quando olhamos para o skyline de ponta a ponta, para a quietude cinzenta do rio das Pérolas, para os maníacos do bungee jumping a testarem a gravidade durante 233 metros de enfiada no cume da Torre de Macau.

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