Fugas - Viagens

Monumento aos “Encierros”, em Pamplona, da autoria do escultor basco Rafael Huerta Celaya

Monumento aos “Encierros”, em Pamplona, da autoria do escultor basco Rafael Huerta Celaya Adriano Miranda

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Navarra: Touros e peregrinos

Actualmente, pelo meio dos "aficionados" locais, intrometem-se numa partilha universal da "Fiesta" turistas de todo o mundo, que, depois da experiência das corridas e das touradas, passam as restantes horas desses oito dias a dançar, cantar, comer e beber, beber, beber... como o testemunhou (e o experimentou) Hemingway.

Quatro caminhos

Na semana em que decorrem as "Sanfermines", por Pamplona já passou a maior parte dos peregrinos europeus que todos os anos demandam os Caminhos de Santiago com o objectivo de chegar a Compostela a tempo da festa anual de 25 de Julho. É que o caminho a pé, a partir da capital de Navarra até à Galiza, demora um mês. Mas isso não significa que o cordão humano que nas últimas décadas tem vindo a reforçar uma tradição que mobilizou a Europa cristã durante séculos não se mantenha praticamente durante todo o ano, e em especial nos meses da Primavera e do Verão.

Os Caminhos de Santiago são outro importante motivo de atracção para Pamplona e para a província de Navarra, onde confluem as quatro principais rotas vindas de França e da Europa. Para o caminho que atravessa os Pirinéus a norte, vindo da localidade francesa St. Jean-Piedde-Port, há um local histórico de chegada (e também de reunião e partida para quem quer fazer o caminho histórico de travessia da Espanha) Roncesvalles. Não chega a ser bem uma povoação, é mais um porto de abrigo para os peregrinos, ultrapassada a prova da montanha.

Numa hora de percurso desse caminho (num veículo todo-o-terreno visivelmente deslocado nesse cenário temos de confessá-lo), no final de Maio, pudemos passar por várias dezenas de peregrinos, de idades e origens diversas, rostos serenos e queimados pelo sol, mas que denotavam a energia que só o pedestrianismo e a fé concedem. Um código de comunicação onde a concha de vieira amarela sobre fundo azul é um sinal universal de orientação encaminha os peregrinos por entre trilhos de cabras e de gado, animais que pontuam a paisagem inóspita mas verdejante dos Pirinéus setentrionais.

Nos antípodas da "Fiesta", esta é também para quem a vive, claro uma experiência de grande intensidade de vida e de comunhão com a natureza. E continua a sê-lo, mais à frente, quando o Caminho atravessa os núcleos urbanos, por entre um cenário já marcado pela história e pelo património a que ele próprio deu origem.

A partir de Roncesvalles, os Caminhos de Santiago em Navarra atravessam Pamplona (onde desagua a rota de Baztan, vinda do País Basco), Puente la Reina (onde chega o caminho francês de Aragão), Estela e Viana. Mais à frente, em Logroño junta-se-lhes o Caminho do Ebro, vindo do Mediterrâneo, seguindo depois a rota via Burgos-León-Astorga-Ponferrada-Compostela.

Memórias de Carlos Magno

Neste roteiro jacobeu, e em cada uma das cidades de Navarra referidas, o turista-caminhante deve parar, descansar e admirar alguns dos monumentos religiosos que ficaram a marcar não só os Caminhos como a História que lhes é anterior e consequência. É o caso de Roncesvalles, lugar da mítica batalha (ano 778) em que os montanheses bascos chacinaram o exército de Carlos Magno e mataram o seu sobrinho Rolando (personagem da depois mítica "Canção de Rolando").

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