Lá vamos, então, no autocarro de Ken, que vai debitando informações variadas: primeiro sobre a aventura espacial mundial - lembra que o primeiro satélite a ser lançado foi o Sputnik, pela União Soviética, em 1957, mas refere-o a correr. O que aqui verdadeiramente interessa são os feitos da bandeira americana. Que, explica Ken logo a seguir, começaram um ano depois. "Em 1958, os Estados Unidos lançaram o Explorer 1, o seu primeiro satélite - e o lançamento foi feito daqui", recorda, com notório orgulho e sentimento de pertença.
Paramos três vezes ao longo do percurso, mas ficamos mais empolgados quando avistamos o complexo 39. Vemo-lo lá ao fundo, a uma distância mais do que considerável, mas sabemos que foi daqui que partiram os vaivéns e satélites que fizeram história e, por agora, isso basta-nos. Tudo à nossa volta é sol e mar, temos vista privilegiada de Cabo Canaveral e da baía. O silêncio que manda aqui só é cortado pelas expressões de euforia de quem posa para as fotografias. E justifica-se, essa euforia: apesar de em redor termos "apenas" um vasto complexo científico, sentimo-nos como que parte integrante da odisseia no espaço.
O melhor ainda estará para vir, no entanto. Entramos no Apollo Center e, sem aviso prévio, estamos "dentro" do centro de comando para o lançamento do foguetão Apollo 8 - 21 de Dezembro de 1968. A bordo seguiam os astronautas Frank Borman, Jim Lovell e Bill Anders, que se tornaram conhecidos como "os primeiros": os primeiros a entrar na órbita da lua e os primeiros a enviar fotos inéditas do solo lunar, esclarece a brochura distribuída aos visitantes do KSC. E agora o countdown: sabemos que não é real, que já passaram mais de 40 anos, que entretanto o homem até pisou mesmo a lua (20 de Julho de 1969), mas não ficamos indiferentes ao nervoso miudinho. São três minutos, que parecem nunca mais passar, mas conforme se vão consumindo sentimos que também fazemos parte da família NASA. 3, 2, 1... Tudo está bem quando acaba bem.
Ainda não recuperamos totalmente e já estamos a dar de caras com a imagem, brutal, do Saturno V. Por cima das nossas cabeças estão os 111 metros e os 2.812.320 quilos do foguete lunar usado nas missões Apollo. O friozinho na barriga parece ser comum a praticamente todos os visitantes mas os miúdos, então, não poupam no entusiasmo. "Wow, look at this!", solta David Miller, de nove anos, que veio de Jacksonville. É um rapaz de óculos, franzino, e diz que ainda não sabe se quer ser "jogador de futebol" (americano, supomos) ou astronauta. A visita ao KSC talvez sirva para tirar as teimas: afinal, não é corriqueiro que se toque num pedacinho de rocha lunar, que é o que David está a fazer agora (e nós vamos fazer daqui a pouco também). Astronauta ou jogador?, insistimos. "Ainda não sei", ri-se.
O KSC, onde trabalham mais de 13 mil pessoas, é hoje uma das atracções mais populares da Florida (por ano recebe mais de 1,5 milhões de visitantes) e merece uma visita vagarosa - e não de apenas três horas, como a que fizemos. Se vai com miúdos, então, o melhor é guardar tempo para tudo: para espreitar os auditórios onde Tom Cruise e Leonardo DiCaprio narram episódios importantes da história espacial americana; para marcar um almoço com um astronauta de carne e osso; para passear pelo Explorer, uma réplica em tamanho real da nave; e, claro, para experimentar o simulador de um lançamento espacial, provavelmente a experiência mais aguardada dos visitantes do KSC. Prometem-se perdas de gravidade e vistas de cortar a respiração sobre a Terra. Parece-nos que falhámos o melhor da festa.