Apesar de ser muito tempo de estrada, o grupo mantém-se em contacto via rádio CB, um sistema de comunicação entre os jipes, sempre ligado. Serve para os condutores trocarem coordenadas, para António Vilela comandar as tropas - mas também foi muito usado para mandar piadas e fazer conversa... Foi uma boa companhia aquele rádio CB. No final do dia, ainda ouvíamos a voz de António Vilela: "Apertem a coluna!" "Copiaste?" "Recebido." Bom, por esta altura, estamos a apanhar o ferry em Algeciras rumo a Ceuta. Passar, depois, a fronteira para entrar em Marrocos é cansativo: papel para a frente, papel para trás. 35 pessoas em tantos carros é muito documento, muito passaporte. Foram mais de duas horas.
Ultrapassada a burocracia, rumámos a Chefchaouen, com a qual Mértola tem fortes laços. Existe mesmo um protocolo que prevê intercâmbios e ao qual se pretende dar novo fôlego. "Chefchaouen tem algumas semelhanças com Mértola no que toca à parte mais antiga da cidade", diz Luís Madeira.
O objectivo é levar ainda mais a cultura e as gentes marroquinas até Mértola para tornar "ainda maior e mais genuíno" o Festival Islâmico, onde "não há encenações": são mesmo grupos de música e artesãos de países como Marrocos, Egipto e Tunísia que enchem a vila.
Como chegámos de noite a Chefchaouen, só no dia seguinte é que vimos como é bonita: bem-vindos à cidade azul. Apresentamos-lhe Abdeslam Mouden, presidente da associação local dos guias turísticos, que nos levou a passear por estreitas ruelas, com casas caiadas de branco e azul. Foi ele quem nos disse que, pese embora já tivesse tido outro significado, hoje o azul é "o símbolo da abertura de Chefchaouen a muitos países do Mediterrâneo".
Situada perto de Tânger e de Tetouan, a cidade deve o nome a um pequeno vale de duas montanhas - ech-Chaoua, que significa "Os Chifres". "No Inverno há aqui muita neve nas montanhas do Rif e também muita chuva", vai contando.
Chefchaouen, fundada em 1471 e com 45 mil habitantes, é também conhecida pelas djellabas (vestimenta tradicional longa e com capuz) tecidas em lã; porém, apesar das várias oficinas de tecelagem que existem na pitoresca Medina, a cidade tem também "muita agricultura biológica, mel, trigo, azeite, queijo" e turismo. Na praça Uta el-Hammam há cafés onde se pode sentar a beber um chá. De hortelã, claro. E com muito açúcar.
No final da manhã, regressámos à estrada. Destino: Azrou, com paragem nas ruínas da antiga cidade romana de Volubilis, Património Mundial da Humanidade. Trata-se de uma povoação rodeada de vastos campos que os romanos ocuparam: podemos ver os balneários, os aquedutos, as canalizações e imaginar como seria o dia-a-dia dos habitantes.
Mas, depois de explorar Volubilis e de 260 quilómetros de estrada, uma das surpresas do dia foi o parque de campismo onde pernoitámos em Azrou. Com vista sobre as montanhas - "azrou" significa rocha em berbere -, é um elegante parque de cinco estrelas, com uma vegetação cuidada, casas de banho limpas (o que em Marrocos não é comum), edifícios com grandes salas e tendas onde, para além do espaço ao ar livre, os visitantes podem dormir.