Fugas - Viagens

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À descoberta da natureza da Colômbia com os índios kogi

O sol espreita por trás das copas das árvores vestidas de cima a baixo e Sandy, caminhando ao meu lado, com um passo ávido e dançante, interrompe, de quando em vez, aquele sossego de ouro.

- Para os kogi, que hoje não serão mais de cinco mil, a terra e o mar são sagrados. Apenas caçam e pescam em pequena escala.

De acordo com a mitologia deste grupo étnico ameríndio, a Grande Mãe, que criou o mundo, é a razão de todas as suas crenças. Os seus líderes espirituais, os mamos, começam a ser preparados desde muito novos e crescem na mais completa obscuridade até aos 18 anos, altura em que estão prontos para comunicar com a aluna, um processo de pensamentos que forma e mantém a realidade, a fonte da vida e da inteligência. Estes sacerdotes, com poder para decidir sobre todos os aspectos da vida quotidiana, mais do que os chefes da tribo, dialogam com os espíritos através da água, do pensamento e da concentração. Segundo os mamos, mediadores entre as forças místicas e os homens, a vida depende do ciclo constante da água em movimento entre os mares e as lagoas de água doce e os rios.

A frescura matinal já se evaporara e o fumo da neblina já se desprendera das árvores quando um pássaro de um azul muito forte, atravessando veloz como um risco, rompeu aquele silêncio íntimo como quem deseja cumprimentar a manhã. Eu continuo a acompanhar Sandy e a escutá-la com um interesse verdadeiro.

- Os kogi acreditam que a Grande Mãe lhes concedeu o privilégio de actuarem como verdadeiros guardiões da natureza. Na sua crença, eles são os Irmãos Maiores, a quem compete proteger a terra, e os brancos, por terem chegado depois, os Irmãos Menores, os responsáveis pela contaminação do meio ambiente. Para eles, quando temos um comportamento exemplar em relação à natureza, a chuva cai em tudo o que cresce na terra.

A chegada dos hippies

A viagem começara muito antes, em Santa Marta, junto ao mercado, quando a penumbra ainda baloiçava sobre a cidade dormente. No interior do autocarro que rapidamente se encheu, pontificava, atrás do lugar do motorista, uma fotografia de Jesus Cristo pendurado na cruz. Apeei-me em El Zaíno, enquanto a buseta, morta de cansaço, prosseguiu a sua marcha até Palomino. De imediato me dirigi à pequena casa de madeira onde são vendidos os bilhetes, não sem antes ser alvo, eu e todos os outros turistas, de uma revista minuciosa à minha mochila por parte dos militares - as drogas são expressamente proibidas no Parque Nacional Natural Tayrona. Uma buseta, ainda mais pequena e mais gasta, conduz os visitantes até um parque de estacionamento que marca o final da estrada de terra batida. Mas também podia optar, se fosse esse o meu desejo, por percorrer o trajecto a pé em menos de meia hora.

Preferi a buseta, para ganhar tempo ao tempo.

Enrique, apenas 16 anos, uma cara redonda e um nariz de pugilista, ajuda a família a cuidar do estábulo onde 27 cavalos aguardam a chegada dos turistas para os levarem, a troco de 16.000 pesos, até Arrecifes. Nas mãos, tem um exemplar do Aja e Qué, um diário que naquele dia oferece uma fotografia de Fary com os seus fartos seios à mostra sob as letras garrafais "Estou desejosa de ti", certamente para tornar a moldura mais harmoniosa. A dois passos, remetido ao silêncio, está um índio kogi, com as suas galochas pretas, o seu chapéu branco com uma fita negra que lhe cobre parte da testa, o cabelo desalinhado, as maçãs do rosto salientes, o habitual saco a tiracolo e roupa que já foi imaculada.

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