Viarco A escrever desde 1931
Gente-gente, assim mesmo muita, é o que não há na Viarco, essa marca intemporal que acompanhou gerações de aprendizes de escrita e que, atrás de uma fachada insuspeita, nos recebe agora com telas de grande formato que reproduzem anúncios antigos e servem de antecâmara a edifícios subocupados - onde trabalham pouco mais do que uma dezena de funcionários.
Continuando a ser a única fábrica de lápis do país e, de acordo com a filosofia "carlsberguiana" do seu director, José Vieira Araújo, "provavelmente a mais pequena do mundo também", a Viarco o que tem mais é história e essa revela-se nas paredes. Com origens em Vila do Conde, a empresa foi adquirida em 1931 pelo industrial da chapelaria Manoel Vieira Araújo, que, apostado em diversificar o negócio, a transferiu depois para São João da Madeira, já sob a sua designação actual.
Seguiu-se o progresso tecnológico, a afirmação da marca e hoje combatem-se os efeitos da globalização com parcerias artísticas que, antecipando as exigências do consumidor, garantem à empresa maior inovação de produto. É toda essa bagagem, portanto, que decora as paredes da Viarco, que só pelo seu corpo físico já seria memorável - porque o cheirinho bom da grafite impregna todo o edifício com ares de infância, porque o pé-direito alto da fábrica faz lembrar o aconchego das antigas casas de família e porque na secção onde se cozem as minas as paredes se cobrem, lindas, nesse cinzento único que é escuro, mas limpo, carregado, mas sano.
Essa pintura atenua-se à medida que se avança para os departamentos de arredondagem, verniz e acabamento, através dos quais se descobre, por exemplo, que a grafite não é introduzida no lápis por um furinho na madeira. O trabalho mais impressionante da Viarco faz-se, contudo, fora da linha de montagem e só se desvenda por completo no único espaço da fábrica em que as paredes são efectivamente brancas: a sala nova que, funcionando como museu, loja e showroom, revela os projectos culturais mais significativos da marca e os produtos de que ela mais se orgulha - sejam bastões de grafite aguarelável para aplicação em grandes superfícies, maços de lápis perfumados, um estúdio portátil com cavalete encastrado ou lápis de ponta magnética que se colam ao frigorífico.
Em São João da Madeira, realmente, não se respira História em cada recanto. Mas em apenas três das suas fábricas descobrem-se casos exemplares da indústria nacional e mundial, e aspectos ignorados da nossa vivência quotidiana. Se se abrirem outras portas das mais de 3500 empresas da cidade, alguém lamentará que não seja do passado o ar que se respira?
Ciclo do Calçado
Centro de Formação Profissional da Indústria do Calçado
Foi no pólo de São João da Madeira do CFPIC que alguns dos principais criadores nacionais de calçado, como Luís Onofre e Paulo Brandão, desenvolveram a sua técnica e o seu talento. A escola abre agora as suas portas em pleno funcionamento, o que permitirá aos visitantes um contacto próximo com a azáfama indissociável das centenas de alunos que a frequentam no período diurno.