A presença assídua que a Fepsa mantém na imprensa pode então revelar-se um problema. Saber que a empresa está associada aos chapéus da polícia britânica feminina, da banda Black Eyed Peas ou dos gangsters que com Johnny Depp desfilaram pela tela em Inimigos Públicos poderá provocar decepções a quem esquece que a firma quase sempre se limita a fornecer a outras marcas o feltro desengraçado que esses clientes, por sua vez, modelam como bem entendem.
Da visita à Fepsa sai-se, contudo, com maior apreço pela cor, pelo toque e pela resiliente universalidade do chapéu, qualquer que seja o seu formato. Porque os últimos momentos do circuito ficam reservados para a secção de acabamento, em que lixas rotativas conferem ao feltro a textura surpreendente da camurça ou do veludo, e depois há ainda o armazém em que, vibrantes de cor, os feltros de São João da Madeira se descobrem profundos viajantes, tantos são os destinos do mundo a que se dirigem.
Helsar Calçado feito para ser visto
O mercado dos sapatos da Helsar ainda não é tão vasto, mas a qualidade da marca vem contribuindo para a reputação internacional daquele que nas últimas décadas se afirmou como o produto nobre de São João da Madeira e um dos principais representantes da indústria nacional. O potencial das colecções da empresa adivinha-se, aliás, nos primeiros momentos da visita: na sala-museu há exemplares dos modelos mais representativos de cada ano de produção, desde os sapatos de criança com que iniciou a produção, em 1979, até aos stilettos de noiva com que vem conquistando as britânicas; e no seu armazém de peles há centenas de propostas, das mais convencionais às mais exóticas, com sintéticos lisos e estampados, couros texturados ou gravados a laser, escamas de cobra e até de peixe.
Escolhidos os materiais e o design do sapato, o circuito dos visitantes acompanha o da produção: os moldes cortam-se à mão ou a laser, no caso de desenhos mais exigentes; as peças que cobrem o pé são costuradas; essa gáspea é depois aquecida ou arrefecida para adquirir a devida curvatura; segue-se a aplicação dos contrafortes no calcanhar, o avivar das palmilhas, a montagem das solas e a aplicação dos saltos; e o sapato segue depois para os acabamentos finais, sempre num trabalho manual que inclui a remoção de excessos de cola, a passagem a ferro das peles e eventuais retoques de pintura.
Com etiqueta da Helsar ou de qualquer outra marca das que requisitam os seus serviços, todos os modelos da casa revelam uma estética cuidada que se pensaria dependente mais da tecnologia do que do rigor humano. Mas terminada a visita no showroom que leva muitas senhoras à histeria, a sensação que fica é a de que cada sapato ou bolsa da marca é sobretudo uma peça de artesanato, cujo trabalho justifica o preço da compra. "Até é pecado andar com sapatos destes pelo chão, a estragar", diz-se em voz alta, perante acabamentos sem mácula. A gerente da casa, Patrícia Correia, com ar de quem está farta de ouvir desabafos desses, corrige logo: "Eles foram feitos para serem vistos. E duram muito tempo. Mas convém que os gaste depressa para querer comprar outros, que é preciso dar trabalho a esta gente toda."