PALMIRA
A Síria entre Roma e Parta
Chega-se a Palmira com a boca seca. A estrada que sai de Damasco a caminho do Eufrates atravessa terrenos cada vez mais desérticos. Aqui e ali, uma casa de camponeses, de cúpula alta e arredondada, consegue manter a frescura interior quando cá fora andam 40 graus à solta. E depois, finalmente, é a surpresa: um extenso e verde palmal ante os nossos olhos.
Palmira deve a sua existência à abundante fonte que sai do flanco do monte Muntâr. É, portanto, um oásis. A água fez a cidade, esta o oásis e este o importante entreposto que as caravanas de mercadores usavam. Elas seguiam quer as rotas do Golfo, quer as originárias do Iraque e do Irão, em direcção ao Mediterrâneo. Praticamente a meio caminho entre o vale do Tigre e do Eufrates, e as costas do Mediterrâneo, Palmira aí estava como paragem obrigatória.
Quando, em 331 aC, Alexandre, o Grande, pôs fim ao império persa, já Palmira era importante. Mas foi o século II dC que marcou o seu apogeu, beneficiando a cidade do ocaso de outra cidade de fronteira, Petra. Adriano visitou-a em 129 dC e concedeu-lhe o estatuto de cidade livre, o que lhe dava benefícios fiscais importantes dentro do Império Romano. Datam desse período as maiores construções monumentais, como o templo de Bel, Nebo, Baalshamin e Allat.
Palmira ganhou esse estatuto especial depois de romanizada. Mas a sua cultura tinha características muito particulares que, aliás, alimentava uma vontade de independência à espera de oportunidade. Segundo Plínio, o Velho, Palmira tinha o privilégio de se encontrar entre os dois maiores impérios do mundo de então, o Romano e o Parta. O templo de Bel, um dos mais marcantes das ruínas de Palmira, testemunha a variedade de influências desta civilização. O Deus palmirense junta características do Baal da Cananeia, do Marduk da Mesopotâmia e do Zeus grego.
Mais surpreendente é a necrópole de Palmira. Tal como sucedia no Egipto, os túmulos foram feitos com o pensamento nos céus. Mas não são pirâmides. Fazem antes lembrar torres altas. Dentro, em nichos como gavetas, repousavam os restos mortais das famílias principais. Altos-relevos revelam a rigidez persa desta cidade romana.
Perder-se entre os templos, os arcos e as colunas de Palmira é um prazer que deve ser usufruído com calma. E, ao fim da tarde, é obrigatório subir a colina onde fica o Qalaat Ibn Maan, um castelo medieval árabe, para daí se ter uma visão abrangente – e inesquecível – de Palmira.
Zenóbia, a rainha que quis ser imperatriz
Zenóbia, a rainha que quis ser imperatriz Palmira é o berço de uma das poucas figuras femininas lendárias do Oriente: Zenóbia, uma mítica rainha que ambicionou ser a imperatriz romana do Oriente. Dizem as crónicas que era culta e que falava, além do aramaico de Palmira, o grego e o egípcio. Afirmava-se descendente de Cleópatra, e a verdade é que tinha coragem e ambição semelhantes. As suas tropas ocuparam o Egipto em 269 dC. e chegaram à Anatólia e a Antioquia. A ameaça levou o imperador romano Aureliano a avançar contra Palmira. Derrotou o seu exército perto de Homs e cercou a cidade. O assédio foi duro e as dificuldades provocaram ironias no senado romano. Aureliano teria desabafado: “Ah, se eles soubessem que mulher é esta que eu combati!” Zenóbia acabou por ser presa e Palmira retomada. Mas a partir daqui factos e lenda misturam-se. É certo que Aureliano a levou, cativa, para ser exibida no desfile do triunfo, em Roma. Mas há quem sustente que a rainha morreu no caminho. Outros afirmam que participou no desfile, coberta por correntes de ouro, e que depois se casou com um senador, vivendo como dama romana até ao fim dos seus dias. E há ainda quem defenda que Aureliano a mandou matar depois do desfile. Seja qual for a verdade, o certo é que Zenóbia, mesmo derrotada, entrou para a História.
PETRA
A cidade dos nabateus