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    Tunísia Camilo Azevedo

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Histórias do Mediterraneo II: O caminho das areias

Algumas centenas de quilómetros a sul de Palmira, situa-se Petra, a cidade dos nabateus. Nómadas de origem árabe, usavam uma escrita aramaica e conheceram a prosperidade dedicando-se ao comércio. Petra, entre o mar Vermelho e o Mediterrâneo, era outro lugar de excelência para descanso e negócio das caravanas que da Arábia se dirigiam para o Mediterrâneo e vice-versa. Petra oferecia condições particularmente favoráveis, porque é uma bacia natural para onde corre a água do Wadi Musa (rio de Moisés), inteiramente rodeada por montanhas. Por outras palavras, era central para as rotas do Sul e tinha excelentes defesas naturais contra intrusões militares.

O nome original de Petra era o topónimo aramaico RQM, que significa bicolor. Nome apropriado, já que as rochas de Petra são de um grés raro, onde uma cor mais clara e outra avermelhada se combinam, dando origem às mais inesperadas texturas. Contudo, o que impressiona em Petra é o modo como os monumentos – na sua maioria funerários – são esculpidos na rocha. Com efeito, as montanhas e a arquitectura das fachadas – que combinam elementos gregos e romanos com aspectos originais nabateus – fazem de Petra uma cidade muito diferente de Palmira. Diferente, mesmo, de qualquer outra. Há ali uma novidade a que hoje daríamos o nome de ecologia urbana. Porque o acto de esculpir a montanha respeita-a e rende-lhe homenagem.

A maioria das fachadas tem um grau de conservação notável. Ao invés, os interiores não são trabalhados porque de casas mortuárias se tratam. Claro que existem também palácios, um teatro, habitações (ainda só parcialmente desenterradas) e até um ninfeu. E são inúmeras as grutas escavadas na rocha. Mas o que marca são as fachadas.

Chega-se a Petra através de um desfiladeiro de cerca de dois quilómetros e que, subitamente, desemboca no Khazneh Fir’aoun, ou O Tesouro do Faraó, o mais imponente e bem conservado monumento funerário do complexo de cerca de 800 que compõem Petra. O “Tesouro” é conhecido do grande público por ter servido de cenário a Steven Spielberg em Indiana Jones e a Última Cruzada. Mas onde o filme acaba apenas começa a cidade. Há que passar o vale principal, ultrapassar o teatro de bancadas que aproveita um anfiteatro natural, prosseguir pela rua das colunas, chegar à grande porta das Três Arcadas, apreciar o Qasr Bint Fir’aoun – Castelo da Filha do Faraó – o Túmulo dos Obeliscos, o Túmulo-Palácio e o de Sextius Florentinus, para se ter uma primeira visão de Petra.

Mas o viajante que se preze deve ainda empreender uma longa subida, degrau a degrau, durante uma boa hora, para atingir o Deir, ou Mosteiro. Trata-se de uma construção aparentemente similar ao Tesouro da entrada. Na realidade, é menos trabalhado e portanto mais depurado. É também de maior porte e mais equilibrado. Lá nas alturas, o esforço da subida recompensa-se e regala-se.

Os beduínos, que conhecem a falta de preparação física dos turistas ocidentais, têm burricos ao serviço. Convém aceitar de bom grado e sem grandes negociações o preço do transporte. Mas saiba que no regresso eles só fazem metade do caminho. A partir daí, quem queira chegar à vila onde se situam os hotéis, ou anda um bom bocado ou contrata cavalos... aos mesmos beduínos. A esperteza dos animais amestrados não lhe elimina a escolha: a trote... ou de rastos, mas orgulhoso.

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