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De Manaus à Amazónia com o ecoturismo como salva-vidas

Recuando. António trabalha no hotel há 18 anos, com um interregno de quatro, quando voltou para os seus barcos. Matéria-prima não lhe faltava - ia buscar a madeira à selva. "Só que o IBAMA deu em cima de mim", recorda o amazonense, que acabou autuado. Um possível resultado prático da Eco-92, conferência que estabeleceu o conceito de desenvolvimento sustentável, numa altura em que a desflorestação da Amazónia estava aceleradíssima (continua, em alguns estados, principalmente para cultivo de gado).

Na altura, o IBAMA, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, começou a apertar o cerco aos madeireiros ilegais, que mais não eram do que habitantes locais, sob o jugo de empresários estrangeiros, que tinham bocas para alimentar. "Conheci muita gente que o fazia, que cortava madeira para vender", confessa António. Hoje, muitos estão como ele, a trabalhar em hotéis que preferem contratar os locais. Conduzem canoas, atraem os botos cor-de-rosa, guiam grupos pela selva, farejam cobras pelos trilhos (sim, elas têm cheiro, dizem-nos). São autênticos G.I. Joes de carne e osso.

Este ano, planeia António, será o último em que trabalha no hotel. Quer abrir uma "pousadinha" com umas "cabaninhas" na sua comunidade, e não será o primeiro a fazê-lo. Conta com a ajuda da esposa e da filha, de 15 anos, que quer ser jornalista. Também do filho, de 13, quem sabe um futuro médico. "Hoje em dia o pessoal trabalha mais com o turismo", diz, falando dos colegas que também já abriram os seus alojamentos. "O turista chega a Manaus, eu vou buscá-lo no barco, e assim vem directo para a minha pousada. Faço o trabalho todinho."

A "bola da vez"

De 1879 a meados do século XX, a região amazónica, com centro em Manaus, vivia o seu primeiro ciclo de desenvolvimento graças ao comércio da borracha, contexto em que foi erigido o requintado Teatro Amazonas. Seguiu-se a Zona Franca de Manaus, criada nos anos 1960, que ainda hoje aloja as indústrias de grandes marcas como a Nokia e a Honda, sendo a actual responsável pelo grande crescimento da capital do estado do Amazonas. Agora acredita-se que o terceiro motor de progresso económico será o turismo, em particular o ecoturismo, mas também o contemplativo, o cultural e o mercado da pesca desportiva, muito atraente para os EUA e o Japão.

"É a nossa expectativa", começa Oreni Braga, presidente da Amazonastur, a empresa pública de turismo do estado. "Temos um património genético muito grande e não se vê outra alternativa económica para a Amazónia que assegure sustentabilidade." Para o ecoturismo, não é preciso "derrubar árvores, contaminar o rio, poluir o espaço": é uma solução "verde" que não é "predatória", nem para a natureza, nem para os habitantes.  "É uma nova opção para os quatro milhões de brasileiros que vivem no Amazonas, que precisam de se vestir, de cuidados de saúde e de educação, de viver." O estado, diz a responsável, tem apostado, por isso, no turismo de base comunitária, dentro do qual o plano de António é um exemplo paradigmático. "Estamos trabalhando bastante as comunidades caboclas para que elas possam estar preparadas: dotando-as de pequenas pousadas, trilhas, alternativas, actividades."

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