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De Manaus à Amazónia com o ecoturismo como salva-vidas

Para isso conta também a qualificação e a consciência, cada vez mais alargada, da importância da educação. Dorian, tal como o retratado por Oscar Wilde, parece não envelhecer. De calções azuis e chinelo de dedo, saltita pela roça de mandioca, a base da alimentação amazónica, com aquela que é a melhor amiga na selva: a catana. Uma das suas filhas foi pela primeira vez à cidade e chega agora com os olhos a brilhar. No jardim, numa gigantesca chapa, Neide prepara tapioca para os turistas, que são também convidados a espreitar uma sala onde se vende artesanato local. Presa num poste, uma caixinha de madeira com duas simples palavras: "Tips/Propinas." São auto-suficientes, vivem do que a terra dá, e têm um acordo com o hotel - só há visitas de turistas se as crianças não saírem da escola.

"Para a floresta estar de pé esses homem têm de ser ajudados. Têm de ter a qualificação e as ferramentas necessárias para realizar o sonho dos turistas", resume Oreni. Até 2014, ano da Copa do Mundo, o objectivo está traçado: "Um milhão de turistas". O ano passado foram 755 mil e em 2010 ficaram-se pelos 680 mil. O Amazonas é a "‘bola da vez'", isto é, "entre os principais destinos turísticos, está na marca do golo". Para trás ficam os tempos em que o governo brasileiro se preocupava em "promover bumbum de mulata, futebol e Carnaval". "Hoje enxerga de outra forma. Vende o país como uma colcha de retalho, sim, mas é um Brasil ecléctico, com a Amazónia como o seu grande trunfo para as próximas décadas."

Há quem se apaixone por menos, como no caso de um realizador polaco de filmes eróticos (Zygmunt Sulistrowski), que se tomou de amores por um casarão na margem do rio Negro, cenário de eleição para alguns dos seus trabalhos, acabando por se destacar na preservação da floresta. Ou do japonês que há quase meio século fugiu de uma guerra e vive, até hoje, numa comunidade cabocla. São histórias de amor que dão para compreender o alcance de uma frase que Edi não se cansa de repetir: "A verdadeira selva é lá fora, a cidade. Aqui há solidariedade."

O antes e depois de Armando, o português

Em Manaus, ainda se devem contabilizar os dias desde que ele desapareceu. Em Maio, havia uma contagem espontânea, partilhada por meio mundo. De voz embargada, enumeravam: "Armando morreu há 47 dias"; "Foi há 50 dias"; "Já passaram oito semanas". Agora, já dirão "há mais de dois meses". Há mais de dois meses que Armando já não está no Bar do Armando, localizado bem no centro de Manaus, no Largo de São Sebastião. O português mais brasileiro da cidade faleceu a 10 de Abril por falência múltipla dos órgãos e deixou órfãos praticamente dois milhões de manauenses. Não é exagero compreender a população inteira - há um antes e depois de Armando. E não é por causa da "tasca", da entroncada sandes de pernil ou do saboroso bolinho de bacalhau.

Pode ser uma aventura chegar a esta praça, onde Manaus mais parece Lisboa, mas vale bem a pena. Saímos da praia da Ponta Negra, com as características torres de hotéis e condomínios fechados, passámos pelas obras de revitalização da orla (não esquecer que vem aí o Campeonato do Mundo) e aventurámo-nos no irrequieto Mercado Municipal Adolpho Lisboa (será o Les Halles?), ainda a ser requalificado. Para trás fica a Ponte Rio Negro, que, inaugurada o ano passado, é a primeira ligação terrestre ao município de Iranduba, uma das maiores do mundo sob uma via fluvial; e, claro, o namoro dos rios Negro e do barrento Solimões, que andam de mãos dadas, sem se misturarem, por mais seis quilómetros, num célebre espectáculo visual chamado Encontro das Águas. Embrenhámo-nos na cidade. Camelôs, pequenas barraquinhas de toldo vermelho por todo o lado, um chinfrim de sons e de cheiros, da fruta à lingerie, das bancas de comida rápida aos óculos de sol. De microfone em punho, alguém anuncia as promoções do restaurante mais próximo. Marketing bem personalizado. Continuar no passeio e tentar escapar dos carros, das pessoas, de tudo. Ufa.

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