Valter é o nosso piloto-guia, há quatro anos com os dois pés no rio, é ele quem nos alerta para os grifos, alguns imóveis nos penhasco, que vistos daqui debaixo quase se confundem com a rocha e depois de identificados parecem gárgulas; outros, de asas abertas, “a aquecer a plumagem”, parece que estão a prestar homenagem ao sol mas é na verdade uma espécie de carregamento de baterias (assim planam melhor e eles têm tal envergadura - podem chegar aos 2,80 metros de asas abertas e 16 quilos de peso - que praticamente não voam: em Agosto, quando as crias começam a voar é normal haver alguns acidentes). Valter aponta para os vários ninhos nos rochedos, nós não conseguimos ver muitos: retemos a história do grifo que virou “ocupa” do ninho de uma cegonha negra.
Tão pouco vemos cegonhas, ou milhafres, mas iremos ver uma rara águia de Bonelli (branca no peito) a voar lá no alto; outras duas águias (são vários os tipos que andam por aqui) estão no ninho, num pinheiro em ilhota, na embocadura com o Ribeiro do Arneiro, cenário usual de paintball cujo ancoradouro foi levado pelo Inverno, contudo, da águia calçada veremos apenas o ninho; passaremos por “guarda-rios” (king fish), plumagem azul e laranja, bico comprido e voo rasante à água; ouviremos rouxinóis. Os cágados e as lontras decidem não aparecer; bóias de esferovite denunciam a pesca dos lagostins.
A Fonte das Virtudes tem uma península, verde fresquinho, giestas e rochas submersas que impedem a aproximação; além dela, por todo o lado, o verde exibe-se em diferentes matizes, excepto no Conhal do Arneiro, seixos rolados de quartzito (conhos), que assinalam um local romano de exploração aurífera.
Terras d’Oiro
Se esta são Terras d’Oiro não é pelas explorações auríferas, que ainda há poucos décadas teve uma febre em Foz do Cobrão e Sobral Fernando e agora tem recriações nas margens do Ocreza. Este ouro é líquido e vem das oliveiras que lhe povoam as paisagens. Num recanto perto da Igreja da Nossa Senhora da Alagada, estão assinaladas as mais antigas, nodosas e frondosas, várias vezes seculares e até milenares – a mais antiga terá sido plantada pelos romanos e do tronco antigo, parcialmente queimado, sai um novo. Durante as festas da Senhora da Alagada (o palco é mesmo aqui) é feito um leilão destas oliveiras: quem ganha, tem direito à colheita.
O azeite é ouro aqui desde, pelo menos, a época romana; os visigodos protegiam-no no seu Código Visigótico; os árabes promoveram a sua produção e na Idade Média é centro produtor e consumidor de referência. Ainda se produz aqui azeite – e azeite biológico – e por todo o concelho estão presentes as marcas dessa actividade.
Em Sarnadas do Ródão, o núcleo museológico (a plano é que todas as terras do concelho tenham um, devotado à actividade histórica dominante) é dedicado a ele, mas é o Lagar de Varas, em Vila Velha de Ródão, que visitamos, pela sua abrangência histórico-cultural: aqui assistimos à evolução da produção do azeite, desde o uso da energia humana e animal até à hidráulica e mecânica. Será, com certeza, o centro do Trajecto das Terras d’Oiro que a autarquia espera implementar.