Michelin
Dos vulcões à vulcanização
Não será apenas uma questão de comunicação. Mas se não fosse a comunicação...Era uma vez, no final do século XIX, uma dupla de irmãos que fabricava pneus em Clermont-Ferrand, numa altura em que poucos acreditavam que uma coisa cheia de ar pudesse aguentar o peso de máquinas e pessoas. A questão é que o engenho dos manos André e Edouard Michelin ia muito para além dos produtos pelos quais ficaram famosos. E se ninguém crê que uma bicicleta anda melhor com umas rodas calçadas com pneumáticos desmontáveis, toca a convencer o ciclista da moda, Charles Terront, a percorrer com eles a mítica prova Paris-Brest-Paris, organizada por um jornal de grande circulação. Que ganhando, como viria a acontecer, ninguém mais duvidará.
Esta é apenas uma das histórias que podemos conhecer na Aventure Michelin. Uma exposição gigante, ocupando uma das antigas instalações fabris, das muitas que a empresa preserva em Clermont-Ferrand. Cidade na qual é, há muito, o maior empregador, sendo responsável, também pela atracção que esta região suscitou entre os emigrantes portugueses que procuravam trabalho em França. Clermont orgulha-se desta ligação a uma empresa que lhe criou o clube de râguebi pelo qual batem os corações dos locais e que, ao longo de décadas, contribuiu para o desenvolvimento urbano, ao construir, por exemplo, bairros para os seus funcionários.
A história deu no que deu, já se sabe. A empresa conquistou primeiro a França e depois o mundo, tornando-se numa das maiores, e mais inovadoras, multinacionais do sector. Mas nem sempre foi assim. A Michelin construiu um carro - o Eclair, na imagem - porque nenhuma marca queria arriscar-se a montar pneus nos seus automóveis. E em 1900, quando o uso destas novas viaturas ainda se começava a disseminar, os manos criaram guias, pequenos livros para ajudar os condutores, nas suas viagens a encontrar tudo o que faz falta a quem anda de carro.
Comunicação, pois claro. Nos anos 20, a empresa tinha cem pessoas num escritório que, por telefone, faziam as vezes do actual ViaMichelin.com da internet, sugerindo rotas e pontos de interesse pelo caminho, a quem pretendia viajar. E se as estradas não estão sinalizadas, eles, que em 1910 tinham começado a produzir mapas, haveriam de lançar uma petição nacional em favor desse objectivo. "Tudo o que é bom para o automóvel e bom para o negócio do pneumático", era o lema.
A história é, pois, mais do que de pneus, de toda uma revolução: numa cidade, no mundo, na nossa mobilidade. Está lá quase tudo - do ponto de vista de uma marca, é certo - o que aconteceu. E ainda há espaço para explorar o futuro desta indústria que começou com a descoberta, no século XIX, do processo de vulcanização com o qual, pelo recurso a altas temperaturas, se consegue transformar um plástico duro na borracha que, como muitas outras inovações pelo meio é certo, hoje equipa as nossas viaturas.
Quis a suprema das coincidências que um lugar cheio de vulcões se tenha económica e industrialmente desenvolvido, desta forma, pelo poder do fogo sobre a matéria, mitologicamente associado ao deus romano Vulcano. E que hoje Clermont-Ferrand, e Auvergne, sejam indissociáveis da história desta empresa e do vulcanismo. Que tem, como a Michelin, o seu espaço de descoberta. Este outro parque temático, em plena área protegida, com vista para o Puys de Dome, é outra aventura. Que não se cinge, por sinal, ao desejo de explicar as origens do território em que foi construído.