Fugas - Viagens

  • Do comboio panorâmico do vulcão Puy de Dôme, a paisagem revela as bossas de outras crateras
    Do comboio panorâmico do vulcão Puy de Dôme, a paisagem revela as bossas de outras crateras Adriano Miranda
  • O Puy de Dôme é o mais famoso dos vulcões de Auvergne
    O Puy de Dôme é o mais famoso dos vulcões de Auvergne Adriano Miranda
  • numa floresta de faias, toneladas de pedras deslizaram de um vulcão
    numa floresta de faias, toneladas de pedras deslizaram de um vulcão Adriano Miranda
  • Clermont-Ferrand, Praça de Jaude
    Clermont-Ferrand, Praça de Jaude Adriano Miranda
  • Galerias Lafayette, na Praça de Jaude
    Galerias Lafayette, na Praça de Jaude Adriano Miranda
  • Praça de Jaude, Clermont-Ferrand
    Praça de Jaude, Clermont-Ferrand Adriano Miranda
  • Catedral de Nossa Senhora da assunção, Clermont-Ferrand
    Catedral de Nossa Senhora da assunção, Clermont-Ferrand Adriano Miranda
  • circuito dos vulcões mais famosos do mundo, no Parque Vulcânia
    circuito dos vulcões mais famosos do mundo, no Parque Vulcânia Adriano Miranda
  • Ford Mustand, um dos clássicos disponíveis na ClassicArvergne, que guiou a Fugas pela região
    Ford Mustand, um dos clássicos disponíveis na ClassicArvergne, que guiou a Fugas pela região Adriano Miranda
  • Igreja de São João, em Charroux
    Igreja de São João, em Charroux Adriano Miranda
  • Vila histórica de Charroux
    Vila histórica de Charroux Adriano Miranda
  • A história da Michelin está muito em contada na exposição Aventure Michelin
    A história da Michelin está muito em contada na exposição Aventure Michelin Adriano Miranda

Auvergne, terra dos vulcões adormecidos

Por Abel Coentrão

Chamam-lhes os Gigantes. Dezenas de vulcões espalhados por uma região que, se um dia foi agreste, fervilha, por causa deles, de vida. Nas montanhas, nos vales e cidades, Auvergne deve muito a este fogo que lhe moldou a paisagem

Esqueçamos a invernia. Maio não foi feito para neves e frio. Dele esperamos flores e sol, mais a mais num lugar onde ambos abundam, percebe-se do avião, à chegada a Clermont-Ferrand, pelo verde da paisagem. Auvergne, tão ao centro da França e tão polar, nestes dias de quase Junho em que somos convidados a conhecê-la.

Nas leituras do avião, ainda podemos aquecer-nos na imaginação do calor da lava a moldar a paisagem, afugentando bichos e homens. Que a região para onde milhares de portugueses foram viver nas últimas décadas, atraídos por oportunidades de trabalho, muitas das quais no gigante fabricante de pneus Michelin, é famosa tanto por esta indústria de vulcanização da borracha como pelos vulcões que conseguimos observar antes de aterrar no primeiro aeroporto do mundo que foi dotado de um piso em betão, em 1916, para serviço dos Breguét IV, aviões fulcrais para a vitória francesa na I Grande Guerra.

A ideia de pôr betão numa pista de terra batida, e o "avião da vitória", são coisas dos irmãos Michelin e descendência, que se metiam em tudo o que mexesse, incluindo, claro, a aviação. Em honra deles, um Bréguet brilha ao sol, feito estátua, no exterior da pequena aerogare. Onde há obras executadas por portugueses. Onde levantamos um carro de aluguer a uma jovem cujos sogros, refere, são de São João da Madeira. Esta tríade: Michelin, portugueses e vulcões, está visto, há-de marcar esta viagem propiciada pela abertura de uma nova rota da Ryanair entre o Porto e Clermont. Na qual quase só se escuta a língua de Camões.

O avião em que partimos carregou-se de turistas acabados de gozar um fim-de-semana por cá e de portugueses, muitos ainda de sorriso amplo e camisolas negras, ostentando a efígie de D. Afonso Henriques. Vimaranenses, estes ganharam a Taça de Portugal ao Benfica, mas chegarão a Clermont e não poderão festejar muito efusivamente, que por lá o ASM, grande clube local de râguebi, fundado, pois claro, pela Michelin, anda na mesma senda do "glorioso" de Lisboa, tendo visto a glória escapar-lhe entre os dedos no campeonato francês e na Heineken Cup, o equivalente à Liga dos Campeões no futebol.

Mesmo assim, é de amarelo e azul que se vestem muitas janelas no centro de Clermont, indiferentes ao desaire. A mesma cidade que, numa enorme estátua na sua praça principal, lembra com orgulho Vercingétorix - um guerreiro que acabou morto, em Roma, às mãos do Império, mas que antes disso vencera, e quase rechaçara desta região da Gália, as legiões de Júlio César - não haveria de agir de forma diferente com os seus heróis da actualidade. Que, como o chefe gaulês, ganharam umas vezes e perderam outras. É uma forma de estar na vida, está visto.

A cidade que foi também de Catarina de Médicis e de Blaise Pascal tem uma história riquíssima. Em 1095, Urbano II lançou a partir de Clermont a primeira cruzada, iniciando um longo período de confrontação entre cristãos e muçulmanos. No local onde o concílio aconteceu, ergue-se uma altiva catedral, em pedra negra, que demorou 700 anos a ser concluída, e que é em si o símbolo da entrada do material vulcânico na arquitectura local e regional que, até ao século XII, se bastava com os tons claros do calcário. Esse que haveremos de ver, dominando a paisagens das pequenas vilas a leste, numa zona de aldeias e castelos a que chamam, por aqui, a "Toscana de Auvergne".

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