Neste lugar onde se celebra a morte, a vida foi uma realidade ao longo de três mil anos ou mais, um importante centro de comércio onde eram transaccionados produtos como cacau, cerâmica e obsidiana, uma espécie de vidro natural produzido por vulcões quando a lava esfria rapidamente. E, neste espaço onde as estruturas e os artefactos mostram influências que vão desde Olmec a Teotihuacán, passando por Pipil, foi precisamente um vulcão que, no ano 260 d.C., motivou uma evacuação massiva dos seus habitantes. A erupção do Ilopango interrompeu o ciclo de vida de Tazumal durante quase 150 anos mas, em 400 d. C., exorcizada a desilusão dos mais velhos, os descendentes da população em fuga regressaram em força, dando início a um período de intensa actividade na área da construção que perdurou ao longo de quase três séculos. Mais recentemente, em 2001, um terramoto provocou sérios danos no complexo arqueológico e, se, por um lado, motivou a acertada decisão dos responsáveis de vedar o acesso ao cimo da pirâmide, por outro, conduziu à infeliz e obtusa ideia de a cobrir parcialmente com cimento, com o argumento de lhe devolver a configuração original e, em simultâneo, proteger a cobertura em estuque — mediante a promessa, ainda por cumprir, de remover o betão em 2009.
A mulher, com um braçado de flores que parece multiplicar-se, continuava a enfeitar túmulos quando, ao fim de uma hora, me despedi deste lugar entregue ao silêncio e do pequeno mas interessante museu, sentindo-me plenamente revigorado e tendo como destino Ahuachapán, vila sem grandes atractivos mas que marca o início (ou o fim) da Rota das Flores. Se para chegar a esta localidade, bem próxima da fronteira com a Guatemala, gastara 55 cêntimos, não foram necessários mais do que 40 para cumprir o trajecto até Ataco, como é tratada pelos íntimos, Concepción de Ataco, pelos menos familiarizados. Apontada justamente como uma das mais pitorescas cidades coloniais de El Salvador, com as suas casinhas de matizes vivos e as suas ruas empedradas, Ataco, fundada por tribos pepiles, recebe-me fervilhando de vida e manifestando todos os sinais de que dera as boas-vindas à alvorada nesse clima de festa que ameaça prologar-se até muito para lá do crepúsculo.
Para quem já esteve em Copán, nas Honduras, a comparação é inevitável; mas peca por descabida se o turista levar em linha de conta o número de visitantes, uma realidade que tem duas explicações: uma, a localização, isolada das mais importantes cidades da parte ocidental de El Salvador; a outra, a pouca disponibilidade das suas gentes para receber viajantes, um sentimento que os tempos têm atenuado, como comprova a abertura de um posto de turismo e os múltiplos sorrisos que rostos bem-dispostos me oferecem, tanto no Parque Central, repleto de barraquinhas de comida típica e de altifalantes pendurados nos troncos de árvores seculares e nas colunas do humilde coreto, como ao longo da rua que corre de um extremo ao outro da vila, calcorreada por vendedores de manga e de gelados.