João Carlos, que nos leva de Itaparica ao Morro de São Paulo, outra ilha e mais um paraíso na Baía de Todos os Santos, vive galvanizado pelo país que o irrita por tudo apostar num Mundial de Futebol que faz estádios mas não escolas e hospitais, que tem suborno, tráfico, crime. Mas “aqui não tem vaca louca, porque a vaca não estressa — é só ver essa paisagem”, remata outra vez a rir, rodeados que estamos de colinas verdes e vacas que pastam entre coqueiros e dendezeiros. Cruzamos postais ilustrados de um rural tropical numa ilha que é suficientemente grande para o gado, para os resorts como aquele que nos acolhe (e que emprega algumas dezenas de itaparicanos), para a pobreza remediada, para as crianças brincarem nas ruas com os seus uniformes escolares e para os trabalhadores viajarem nas estradas de camioneta ou mesmo na caixa aberta de pesados que despejam pessoas como toneladas de terra.
Se o Brasil é uma celebração em forma de país, então o estado da Bahia é o anfitrião das suas festas na praia. Em torno de Itaparica, há, a diferentes distâncias, mundos e fundos. Sair do resort-aldeia, quando o mais fácil seria trocar o mundo lá fora por uma pulseira que nos dá de comer e beber, significa poder explorar a ilha, mas também a icónica e caótica Salvador ou os longos areais do Morro de São Paulo. Vamos.
Com a ajuda de João Carlos e da lancha Ventura, atravessamos 1h30 entre camioneta e água através dos mangues para chegarmos ao arquipélago de Tinharé. E chegados ao Morro de São Paulo aprendemos logo que os táxis são amarelos. Carregam-se as malas nos carrinhos de mão pela ladeira do porto até à vila pedonal, explora-se a rua do comércio, faz-se mergulho, faz-se paddle surf, ou não se faz nada. Uma t-shirt que replica o logótipo da marca americana Tommy Hilfiger resume a coisa: Tommy Cerveja.
Redescoberto há um punhado de anos pelos jovens boémios brasileiros, o Morro de São Paulo era uma vila piscatória que agora parece irmãmente distribuída entre turistas brasileiros, alguns estrangeiros e as crianças que saem da escola junto ao porto, os homens e mulheres que trabalham no turismo ou no mar, as ladeiras verdes e as praias de um turquesa irresistível. Praias e gentes que celebram o Brasil e o mundo: definitivamente, um tropical ilustrado. O sol está quente? Na praia quatro (a primeira é piscatória, a segunda é curta e a terceira é a dos bares, chuveiros e música ao vivo, com mais água fria dada pelo recorte do coral), a natureza dá o refúgio, porque a praia é bordada a coqueiros e árvores do caju que se agacham sobre a areia e criam nichos para beber água de coco, cervejas, trincar pastéis ou simplesmente ler e dormir.
Alex entra na água e pergunta, como todos nestas povoações da Bahia que a Fugas visitou: “Tudo bem?”. “Tudo.” “Também se não estivesse, aqui ficava,” decreta risonho, cidadão do que considera o “paraíso de deus”. Uma série de pequenas pousadas e um par de hotéis junto ao mar numa ponta, o porto e seus táxis amarelos (e alguns verdes, vermelhos ou azuis, vá) do outro, as crianças que jogam à bola descalças, alguns hostels e muito chinelo no pé — quase tudo isto está no mapa do Morro de São Paulo distribuído à chegada, que não tem pruridos em garantir que é mesmo “o mapa do paraíso”.