Fugas - Viagens

  • Sérgio Azenha
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Trinidad, a perolazinha cubana

O jantar está apetitoso, o calor paira no ar, as portas estão fechadas, pode sempre surgir o homem que avalia a quantidade de electrodomésticos existentes em casa.

— Mas eu estava a falar, pouco depois de você entrar, na carne das vacas que não é para nós, no leite que supostamente é destinado às crianças. Sabe que mais?

Eu não sabia, nem que mais, nem que menos, limitava-me a escutar.

— Pode parecer uma anedota mas não é. Um homem, tendo um grande número de vacas a pastar, não muito longe do lugar onde vivia, despertou numa manhã e deu conta da falta de uma. A notícia, como sempre acontece em Cuba, propagou-se, a polícia chegou, sorrateira, tão silenciosa como a noite ou envolta nas brumas como algumas manhãs, e inquiriu. À falta de resposta, sobre quem havia roubado a vaca, o dono, incapaz de explicar o inexplicável, foi remetido para um calabouço.

Priscila, já sem aquele trejeito preocupado que ostentava na praia, advertiu o marido:

— Pára de atormentar o senhor com essas histórias. E se contasses uma anedota?

Ele ri, olha o tecto negro.

— Sabe por que razão não há piscinas em Cuba?

— …

— Porque aqueles que sabem nadar foram todos para os Estados Unidos.

Um porco passeia-se pelo pátio exterior.

Conta outra, diz Priscila, e enche o copo do senhor. Quer mais frijoles?

— Esta é um bocadinho antiga mas, em Cuba, as anedotas são como os produtos, chegam sempre mais tarde ou nunca chegam. A professora, pegando numa fotografia do presidente Bush, pergunta aos alunos: de quem é este retrato? Faz-se um silêncio absoluto. Vou ajudar um bocadinho: por causa deste senhor estamos a passar fome. Pepito levanta-se e diz: Ah, professora, é que sem farda e sem barba não o reconheci.

Na escuridão, caminhando com mais rum na cabeça do que moros e cristianos no estômago, também não reconheço Trinidad. Mas ela está ali, como sempre esteve, desde há 500 anos.

Como ir
A Air Europa, com uma escala em Madrid, oferece as melhores tarifas (cerca de 650 euros) entre Lisboa e Havana. Outras companhias, como a Iberia, a Air France ou a KLM, para citar apenas algumas, também voam para a capital cubana mas, tendo como referência o mês de Janeiro, todas elas cobram mais de mil euros por um bilhete de ida e volta. Desde Havana, a melhor opção é recorrer à empresa Viazul, cujos autocarros cumprem o trajecto até Trinidad em cinco ou seis horas, por cerca de 25 CUC (um pouco mais de 18 euros). O terminal em Havana está localizado fora do centro, pelo que terá de alugar um táxi (entre cinco a dez CUC) ou, em alternativa, viajar com a Transtur, também por 25 CUC, com a vantagem de esta empresa disponibilizar um serviço que recolhe os clientes nos principais hotéis de Havana — mas não se dormir em casas particulares. Em Trinidad, o terminal está localizado no coração da cidade colonial. Entre as duas cidades também é possível viajar em táxi colectivo, mais rápido mas também mais dispendioso.

Quando ir
Não se pode falar verdadeiramente de uma época má para visitar Cuba mas há alguns períodos que o turista deve ter em conta para não sair com as suas expectativas defraudadas. A época das chuvas ocorre entre Maio e Outubro mas resume-se, na maior parte das vezes, a uns aguaceiros esporádicos durante a tarde. Julho e Agosto são meses de muito calor e durante os quais meio mundo — incluindo um grande número de cubanos — está de férias. Nessa altura, hotéis e praias estão a abarrotar e os preços aumentam no mínimo 20 por cento. O Natal e a Páscoa são, de igual forma, quadras que atraem um grande número de visitantes e de Junho a Novembro é a época dos ciclones, se bem que os mais fortes têm tendência para varrer a ilha entre Setembro e Outubro. Então, quando se pode ir a Cuba? De Janeiro a Abril (sem esquecer o período da Páscoa) mas em qualquer outra das alturas, tomando as devidas precauções, fazendo reservas antecipadamente, também é possível desfrutar o país de Fidel Castro.

Onde comer
Se ficar hospedado numa casa particular não necessita, por norma, de fazer as suas refeições em restaurantes. Mas nunca se deve sentir pressionado e tem sempre como alternativa os paladares, também geridos por famílias no espaço que lhes serve de residência. Entre estes, recomendam-se o Sol y Son, o Estela e o La Coruña, todos no centro. Se for adepto de restaurantes, tem diferentes alternativas: Méson del Regidor, especializado em carnes grelhadas, Plaza Mayor, em marisco, El Jigue, em frango, e o Via Reale, em pratos vegetarianos e italianos.

Onde dormir
Trinidad tem mais de 300 casas particulares que oferecem alojamento ao turista, um número elevado que provoca, não raras vezes, uma concorrência feroz e visível logo que os autocarros provenientes de Havana — mas também de outros destinos — se insinuam pelas ruas da cidade. Dormir em casas particulares pode revelar-se uma experiência inolvidável, uma forma de conhecer melhor os cubanos e o seu modo de vida, ouvindo relatos, com a porta fechada, sobre as suas experiências quotidianas feitas de grandes dificuldades. Na chegada a Trinidad, não acredite se um entre 40 ou 50 casadores ou jineteros — como são conhecidos os comissionistas que conduzem os turistas às casas, algumas delas ilegais — lhe disser que "o dono está na prisão" ou que a casa onde pretende ficar instalado "já não existe" — são as mentiras mais em voga por via de uma oferta claramente superior à procura numa cidade que vive em grande parte do turismo. Os valores pedidos andam à volta dos 20 e os 35 CUC e, sob pena de sermos injustos, aqui ficam alguns exemplos: Myreia Medina Rodriguez, Casa Smith, Casa Gil Lemes, Casa Santana, Casa Arandia e Hostal Yolanda María, um verdadeiro palácio construído no início do século XVIII.

Se preferir um hotel, Trinidad também oferece múltiplas escolhas. O Iberostar, com 40 quartos, é um cinco estrelas localizado no centro e com preços a partir de 105 euros por noite. A curta distância da zona histórica, no alto de uma colina, está situado o Las Cuevas (cerca de 40 euros) e, junto à Praia de Ancón, o Brisas Trinidad del Mar, um resort que por norma recebe turistas segundo o conceito all-inclusive e com tarifas que variam entre os 50 e os 60 euros.

O que fazer
Se, uma vez farto de praia, se sentir tentado pelo ar fresco, não deixe de visitar a zona de Topes de Collantes, uma estação climática situada a quase 800 metros na Sierra del Escambray, a escassos vinte minutos de Trinidad, um passeio encantador que leva o viandante até ao ponto mais alto da província de Sancti Spiritus, o Pico de Potrerillo, próximo dos mil metros, por entre bosques de coníferas, vinhas e fetos de grandes dimensões, uma paisagem deslumbrante que, de uma forma ou de outra, leva o turista até ao Valle de los Ingenios, a escassos oito quilómetros de Trinidad, uma área de 276 km2 que se espraia aos pés de Escambray, contemplando os vales de São Luís e Santa Rosa, bem como a depressão de Meyer. Sem grande demora, por esta ou por aquela razão, irá ficar a saber que por estas bandas se construiu, no século XVIII, a primeira açucareira, alguém lhe irá contar que em 1827, no auge da produção, toda esta zona integrava 56 complexos de exploração do açúcar, nos quais trabalhavam quase doze mil escravos.

Informações
Para entrar em Cuba necessita de um passaporte com uma validade de pelo menos seis meses, um visto (para 30 dias mas pode ser prolongado junto das entidades competentes em Havana), um seguro de viagem com cobertura médica e uma cópia bem legível do bilhete de avião, de ida e volta. A embaixada de Cuba está situada na Rua Pêro Covilhã, 14, em Lisboa.

Face ao embargo, não é possível utilizar cartões de crédito americanos. A moeda utilizada para pagamentos é o Peso Cubano Convertível (CUC) mas a moeda local é o Peso Cubano (CUP). Um euro equivale a aproximadamente 0.75 CUC (tal como o dólar) e a 24 CUP. Em alguns lugares, onde o turismo está fortemente implantado, como Havana, Varadero e os Cayos, o euro tem curso legal, sendo preferível levar dinheiro em numerário. Se optar pelos dólares americanos, a reconversão implica uma sobretaxa de dez por cento. Na prática, não existe um limite para montantes de divisas importadas ou exportadas se bem que, na teoria, qualquer quantia acima dos dez mil dólares tenha de ser declarada à entrada do país.

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