Fugas - Viagens

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A bela e o monstro no jardim de Java

- “Nos sete primeiros níveis do templo - o edifício tem dez -, as stupas têm losangos a decorá-las, passando a quadrados nos últimos três, porque se está mais próximo do nirvana, da perfeição. E, sendo difícil explicar o que é a meditação e a busca pelo paraíso, os painéis figurativos que revestem o templo de Borobudur passaram a resumir a história da rainha Maha Maya, esposa de Suddhodana, e do filho Siddharta, futuro Buda.”

Suryon reportava-se aos 2672 baixo-relevos esculpidos na pedra, que encerram, de facto, uma beleza e valor inestimáveis, todos dedicados à vida e ensinamentos de Buda, que “não é Deus”, como anota o solícito guia, mas, antes, “um professor espiritual que nos ensina o caminho da libertação”.

Rumo ao nirvana

Buda nunca esteve desacompanhado na região. A Indonésia foi penetrada por quatro correntes de pensamento distintas, acrescentando várias influências ao animismo que se desenvolveu simultaneamente na área. Nos séculos I e II, mercadores indianos levaram o hinduísmo para o país, com a religião e a cultura hindu a desenvolverem-se durante os séculos VI a XIV. Porém, nos séculos VI, VII e VIII, o hinduísmo foi ultrapassado pelo budismo e, uma vez mais, pela mão e conhecimentos dos comerciantes indianos. Uma e outra religião subsistiram lado a lado em Java, em perfeita coexistência até à chegada do Islão, nos séculos XII e XIII. O reino islâmico iniciou a sua duradoura era em 1205 - durou até 1903 -, levando ao abandono de Borobudur, 200 anos após a sua construção, ainda que, no seu auge, o templo budista fosse um dos mais demandados em todo o mundo. Apagado da visão de todos pelo Islão, cinzas do Merapi e encoberto pela selva, o monumento só voltaria a ver a luz do dia em 1814, através de escavações arqueológicas.

Na origem da construção do templo estiveram milhares de braços durante várias décadas. Os trabalhadores desenvolveram um processo em que transportaram dois milhões (!) de blocos de pedra, dispostos como peças da Lego, de modo a eternizaras crenças cósmicas budistas.

- “Toda a obra foi concebida sem qualquer tipo de argamassa , técnicas de engenharia ou ferramentas modernas. Tinham, apenas, cordas, martelos, carrinhos de mão e, o mais importante, músculos”, ressalvou, divertido, o jovem de cabelo e olhos negros e tez escurecida pelo sol inclemente.

Prosseguimos a viagem pela aprendizagem, através da labiríntica teia de galerias e escadas, no sentido dos ponteiros do relógio, representando a eterna caminhada humana. No total, são seis plataformas rectangulares onde assentam três terraços concêntricos, todos esculpidos em pedra vulcânica, decorados com os “tais” 2672 painéis em relevo, numa espécie de rosário budista feito de pedras, e adornados com 504 estátuas de Buda. No topo, a stupa principal está ladeada por 72 estátuas de Buda, protegidas em stupas menores e perfuradas. Segundo a lenda, se alcançar uma das estátuas pode formular um desejo que o mesmo será atendido. É melhor nem enumerar a quantidade de braços que se esticam através das pequenas aberturas dessas stupas...

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