Foi um amor muito pouco convencional e daí todo o fascínio pelo casal tão improvável como inevitável. Em 1929, ele tinha 24 anos, ela 21, ambos fizeram provas na Sorbonne, em Filosofia, para conseguirem entrar na carreira de professores: ele, na sua segunda tentativa, ficou em primeiro, ela em segundo. Sartre era baixo, profundamente estrábico e com predilecção por roupas alguns números acima, Beauvoir personificava a elegância e o estilo. Ele gostava de beber e de longas discussões noctívagas; ela também. Apaixonaram-se. Diz-se que ele a pediu em casamento logo em 1929 e ela o recusou. Nunca casaram, nunca viveram juntos e tinham um “pacto”: podiam ter relações com terceiros, desde que contassem tudo um ao outro. Ambos usaram e abusaram desse acordo, envolvendo-se em múltiplas relações, muitas vezes dentro do seu círculo próximo, a que chamavam família.
Esta família existencialista movia-se entre Saint-Germain-des-Prés e Montaparnasse, a rive gauche parisiense. Entre muito café e mais fumo, transitavam pelos mesmos cafés em discussões intermináveis. O Café Flore e o Le Deux Magots foram o coração deste existencialismo, onde Sartre e Beauvoir recebiam os seus acólitos, cada um na sua mesa, para tertúlias sobre o nada e o tudo (sexo). Mas não foram os únicos, numa lista consistente de locais perfeitamente identificados e por estes dias insuperavelmente turísticos e caros. Porque de bairro boémio Saint Germain de Prés transformou-se em passarela de vaidades, abraçada pelo Sena, o Jardim do Luxemburgo, a torre Eiffel e o Quartier Latin.
Sartre morreu em 1980, Beauvoir seis anos depois. Estão sepultados no cemitério de Montparnasse, bairro onde Beauvoir nasceu (nunca saiu de casa), em campa simples. Existencialista, como o amor deles.