Fugas - Viagens

  • Natia Rekhviashvili
  • em Tblissi, a capital georgiana
    em Tblissi, a capital georgiana Natia Rekhviashvili
  • Natia Rekhviashvili
  • uma praia de Batumi
    uma praia de Batumi Natia Rekhviashvili
  • em Tblissi, a capital georgiana
    em Tblissi, a capital georgiana Natia Rekhviashvili
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    A cidade termal de Borjomi Carlos Cipriano
  • O Museu José Estaline, em Gori, tem cerca de 140 mil visitantes por ano
    O Museu José Estaline, em Gori, tem cerca de 140 mil visitantes por ano Carlos Cipriano
  • Batumi, às vezes apelidada de Las Vegas do Cáucaso
    Batumi, às vezes apelidada de Las Vegas do Cáucaso Carlos Cipriano
  • Carlos Cipriano
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Geórgia sobre os carris da História

Uma cidade que parece ainda viver nos anos 80 do século passado. São 8h30 da manhã de um domingo de Janeiro e estão 9 graus negativos. A avenida está deserta e os escassos carros que passam indiciam uma frota automóvel envelhecida, onde pontificam ainda alguns Lada. Por entre a neblina esbranquiçada surgem raríssimos transeuntes com os seus gorros na cabeça. O ambiente é severo. Só falta avistar numa esquina um espião de John le Carré ou um circunspecto agente do KGB, ou um grupo de dignatários do politburo perfilados perante um soldado do Exército Vermelho que faz a ronda em passo de ganso.

Se há locais que guardam bem a memória da antiga União Soviética e que parecem ainda nela viver, esta parte de Gori é um deles. Ou não fosse neste sítio, naquela casa de madeira e adobe, que nasceu o camarada José Estaline.

Foi a partir dessa humilde casa (agora protegida da intempérie por uma cobertura tal como se fosse um sítio arqueológico) que foi rasgada a enorme avenida. Logo por detrás está o museu, que, apesar da sua arquitectura grave, parece na verdade um palácio burguês.

A sua visita não desmerece a sensação de viagem no tempo. A começar pelo frio que nele se faz sentir. Tal como nos tempos mais difíceis da União Soviética, o aquecimento não funciona, apesar dos radiadores espalhados por todo o edifício. Estão perto de zero graus e os visitantes circulam tolhidos, com a cabeça coberta e envoltos em blusões e cachecóis. A mulher que faz a visita guiada ao pequeno grupo de estrangeiros é ela própria uma peça viva do museu. Pela idade, terá sobrevivido ao colapso da URSS e continua a dirigir a visita com o mesmo tom monocórdico, apático e desinteressado como o faria há 30 anos. Despeja um inglês perfeito, sem mácula, mas tão apressado que ficamos na dúvida se sabe realmente o que está a dizer.

Pelos salões imponentes, dignos de um palácio real, avistam-se centenas de fotografias de José Estaline. O jovem nascido de um casal de camponeses. O estudante no seminário do qual foi expulso. A adesão ao movimento revolucionário, a prisão, a revolução bolchevique e a sua ascensão ao poder depois da morte de Lenine, aqui contada como se este último o tivesse elegido como seu natural sucessor. Seguem-se as grandes obras do regime e, claro, a Segunda Guerra Mundial, que ocupa mais do que uma sala. Curiosamente, e apesar de o museu datar dos anos 1950, não foi apagada a imagem de Trotsky, que figura em pelo menos duas situações, ao lado de Estaline e de Lenine.

O gabinete de trabalho do ditador com o mobiliário original e alguns objectos pessoais constam também do acervo do museu, que culmina com um memorial numa sala expressamente dedicada à sua morte.

Uma das partes mais interessantes é a exposição das inúmeras prendas oferecidas a Estaline, não só por parte das então repúblicas socialistas soviéticas, como dos partidos e organizações comunistas dos países ocidentais. Entre o kitsch e o piroso, encontram-se também deslumbrantes obras de arte de inegável valor.

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