Fugas - Viagens

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    em Tblissi, a capital georgiana Natia Rekhviashvili
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    uma praia de Batumi Natia Rekhviashvili
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Geórgia sobre os carris da História

Por Carlos Cipriano

Pode haver história numa viagem nocturna de comboio. Pode-se viajar no tempo ao deambular por uma cidade. E podem-se visitar monumentos, estâncias balneares e termais – isto num só país. Bem-vindos à Geórgia.

O comboio nocturno que me vai levar para a costa do Mar Negro sai da capital, Tblissi, às 22h35 e chega a Makhinjauri às 6h55. Ao todo, são 8h10 minutos para percorrer 342 quilómetros. E ainda assim não me vai deixar exactamente no destino – Batumi –, apesar de a linha férrea prosseguir por mais oito quilómetros até à costa. Este último troço está destinado unicamente a comboios de mercadorias que transportam carvão e petróleo por um corredor que liga o Mar Negro ao Mar Cáspio.

Batumi, o destino final, é uma estância balnear que será o equivalente ao Algarve para os portugueses. A julgar pela dificuldade em reservar hotel, parece que toda a gente decidiu também lá passar o ano. Felizmente, não foi difícil conseguir um compartimento-cama em 1.ª classe.

A estação de Tblissi é má, apesar de ficar incrustada num moderno centro comercial. Acede-se por umas escadas rolantes no meio de uma grande confusão de lojas e o átrio fica num andar que antecede o piso da restauração. Não há balcão de informações e a menina que atende do outro lado de um telefone destinado a informar os horários aos passageiros mal fala inglês e não foi de grande utilidade. É preciso andar de bilheteira em bilheteira para conseguir reunir informação suficiente para saber quando e para onde ir. 

Para aceder ao comboio, a estação central mostra todo o seu esplendor. É uma espécie de subterrâneo ou cloaca do centro comercial. As plataformas estão cheias de buracos e mal iluminadas e para passar sob as vias os túneis são absolutamente tenebrosos – sem luz, um cheiro fétido a humidade e um piso escorregadio, pejado de lixo.

O comboio é composto por uma locomotiva eléctrica que reboca 18 carruagens. Não tem bar nem carruagem-restaurante. Mas o compartimento onde passarei a noite é um pequeno luxo para quem emerge das catacumbas da estação. Dois assentos compridos sobre os quais os próprios passageiros fazem as camas, sendo-lhes fornecidos um cobertor, lençóis, toalha, fronha e almofada. Tem tudo um ar muito velho ou, no mínimo, muito usado. Os tons são de um amarelado-acastanhado baço, que contrasta com a cor rubra do veludo de que é feito o assento, e que sobe pela parede onde, de cada lado, está um espelho oval de razoáveis dimensões. A iluminação é aceitável e a luz de presença permite ler antes de adormecer.

O pormenor mais interessante é a televisão. Daquelas a sério, tipo caixote, pendurada por cima da janela, e não um plasma moderno pregado na parede. E que funciona bem, mesmo com o comboio em andamento.

Cada carruagem-cama de 1.ª classe tem uma assistente de bordo (chamemos-lhe assim) com um ar austero, que se limita a receber os passageiros nas estações e a controlar os bilhetes. O mínimo que se pode dizer é que são adequadas ao estilo “forte e feio” destes comboios georgianos herdados da velha União Soviética – aço contra aço, portas pesadas e antecâmaras entre o corredor e o hall de entrada. Para passar de uma carruagem para a outra é preciso atravessar seis portas. Os foles entre as carruagens estão mal fechados e entra por eles um vento gélido.

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