Com o mesmo passo firme e o mesmo tom monocórdico, a guia introduz-nos num corredor térreo onde, em duas estreitas salas, uma delas num vão de escada, se recordam as vítimas do estalinismo. Com a mesma ênfase – que é nenhuma – com que falava na infância de Estaline, a guia refere as centenas de milhares de pessoas aprisionadas e assassinadas a mando do ditador. Um escritório que recria o posto de trabalho de um oficial da KGB, o interior de uma prisão soviética, roupas que pertenceram a prisioneiros e um improvisado mapa onde se anotam as vítimas do período estalinista completam a parte do museu que pretende render-lhes homenagem.
Mas não rende. Esta parte é tão indigente que mais valia assumir o museu José Estalin como sendo, ele mesmo, um museu de um museu.
A visita termina no exterior, onde está uma das peças mais interessantes do acervo museológico – a carruagem de caminhos-de-ferro que o homem forte da União Soviética utilizava nas suas deslocações. Estaline tinha medo de andar de avião e foi neste veículo que se deslocou à conferência de Ialta e se movimentava amiúde pelo seu império, incluindo nas suas vilegiaturas nas estâncias do Mar Negro.
A carruagem é dotada de todas as comodidades existentes na época, incluindo ar condicionado e uma casa de banho com banheira e chuveiro. Possui uma cozinha e três compartimentos-cama onde pernoitavam Estaline, o seu secretário e o chefe da segurança. Um salão com uma mesa ampla para reuniões e refeições completa o bem aproveitado espaço interior do veículo. Digno de nota, o curioso armário das telecomunicações que condensa a tecnologia mais avançada da época e que permitia ao ditador estar em contacto com todos os pontos do seu império.
INFORMAÇÕES
Guia Prático
Como ir
A Turkish Airlines é a melhor opção para voar para a Geórgia, seguida de muito perto (em termos de preço) pela Lufthansa. Não há voos directos e as tarifas mais baixas podem implicar escalas de quase 24 horas o que, no caso de Istambul, pode não ser um inconveniente se não se tiver pressa.
Nesta altura do ano é possível viajar de Lisboa para Tblissi a partir de 360 euros pela Turkish ou de 420 euros pela Lufthansa.
A Geórgia não exige visto de entrada a cidadãos portugueses.
Dentro do país a mobilidade está assegurada por minibus, que são baratos e muito frequentes. A regra consiste em saber de onde saem e aparecer no local. Quando estiverem cheios, partem. Depois o melhor é confiar em Deus ou na lei das probabilidades e esperar chegar vivo ao destino. A forma como se conduz na Geórgia é assustadora, para mais num país montanhoso e com estradas, por vezes, geladas.
À semelhança de outras antigas repúblicas soviéticas, o sistema ferroviário está degradado (embora sejam visíveis anúncios de grandes investimentos de modernização), mas as viagens são a preços simbólicos. Os comboios são poucos (normalmente há um de manhã e outro à noite para os principais destinos) e maus, mas, ainda assim, podem ser melhor alternativa do que o stress dos minibus.