Logisticamente, partir de forma independente é aventura que pode nem compensar financeiramente: preciso de, no mínimo, duas viaturas. Sem carro de apoio, é-me proibida a entrada no território. Aqui, há mil e uma formas de morrer. E nenhuma é branda.
Nesta região, nem sinal de acesso à medicina internacional. Unicamente a convencional que os próprios desenvolveram. Para o ocidental, uma doença complicada pode ser fatal. Mais um motivo para ter companhia.
A segurança também é preocupação. Em 2012, um grupo de turistas foi atacado por homens armados perto do vulcão Erta Ale. Cinco morreram, dois ficaram feridos e dois estrangeiros, um motorista e um polícia, foram raptados. Este foi somente o mais recente incidente numa área considerada de alto risco e que tem sido alvo de avisos dos diversos governos. Resultantes dos eternos problemas entre etíopes e eritreus.
Entrar no Danakil exige autorização superior. Tem de haver o ok de Adis Abeba. O registo de quem entra na região é fielmente depositado na capital. É melhor. Para todos. Estas formalidades estão a cargo de uma das três empresas aptas a fazer o programa. Normalmente, 500-600 euros por quatro/cinco dias.
Estão comigo uma australiana, uma chinesa, um húngaro e três franceses. Temos guia. Condutores. Cozinheiro. Polícia afar e exército juntos. Este é terreno propício para emboscadas. A defesa justifica-se. Em grupo organizado, tudo mais tranquilo. Em expedição a solo, é provável lotar o carro com guias, seguranças e desnecessários “guardas secretos”. Que apenas nos vão consumir os mantimentos, conversar até à exaustão e atrasar a viagem. Sobram relatos de que param em todo o povoado onde têm amigos e criam obstáculos que interfiram com a sua “festa”.
A caminho
Em duas horas de jipe – inicialmente asfalto, depois as rudezas de nova estrada, rasgada em pó na montanha - chegamos a Berahile, a porta de entrada no domínio afar. É o fim da região do Tigrai. Marca o ponto de transição paisagístico e cultural. A primeira amostra do que nos espera: muito pó, animais à solta, precárias cabanas, a esperada pobreza. Tudo básico, rudimentar.
A aldeia está na margem de um rio ocasional. Nem sempre há água. Mas sobram camelos. Anualmente, um milhão acampa junto à povoação. Levam o sal do Dallol para os vários mercados da Etiópia. À noite são descarregados e alimentados com forragem “fresca” vinda de outras paragens.
Papéis e permissões ok. Últimas bebidas frescas. Sendo islâmicos, não nos oferecem álcool. Cabras procuram a sombra do carcomido autocarro que liga à cidade apenas a cada três dias. Chegando aqui desta forma, só podemos prosseguir de camelo. Ou a pé.
Mais um par de horas, de condução exigente. Seguimos o leito de um rio seco. Antes do próximo lugarejo, uma formação rochosa que indicia marcas do nível do mar. Mas já estamos largas dezenas de metros abaixo.
Serão cinquenta quilómetros entre Berahile e Hamed Ela, a principal base para explorar o território. É o ponto privilegiado para “conviver” com as permanentes e milenares caravanas de sal.