Há uma eternidade que sofremos com o todo-poderoso Gara, o vento de fogo. Derrete qualquer imprudência neste lugar hostil. Verga-nos. É como ter um ar condicionado a debitar calor para o nosso rosto. Todo o dia.
São centenas de cameleiros afar. Que se movem sazonalmente. Sob o sol mais abrasador do planeta, lascam a extensa crosta salgada (estudos falam em profundidade até .000 metros) extraindo grandes blocos que, depois, são esforçadamente esculpidos em placas de 30x40 centímetros. Pesam uns 6,5 quilos. Cada camelo transporta umas 30 barras, cerca de 200 quilos. Os burros, adaptados a esta tarefa, também contribuem. Depois transportam a mercadoria com estafantes caminhadas de dias...
O sol é sufocante como nunca. Num dos tais momentos em que supera, tranquilamente, os 50ºC. Esta gente não vacila. E não se concede o luxo de descansar. Será conveniente evitar que o Abo Lalu (demónio/espírito maligno que à noite assombra as salinas) manifeste todo o seu mau humor.
Todo o processo tem milénios. Os afar acreditam que a utilização de maquinaria destruiria o lugar. Diz a lenda que o Danakil era tudo ouro, toda a gente vivia à grande. Até a ganância os “destruir”. Então Deus castigou-os transformando o adorado metal em sal. Dantes, ganhava valor a cada quilómetro que se afastava da origem. Hoje mal dá para sustentar este penoso modo de vida.
"É melhor morrer do que viver sem matar", diz o provérbio afar. Em nenhum outro lugar do planeta isto fará tanto sentido.
GUIA PRÁTICO
Como ir
A Egipt Air (Lisboa) ou a Turkish Airlines (Lisboa ou Santiago de Compostela) voam para Adis Abeba, com escala, por valores a partir dos 850 euros. Da capital para Makele, o melhor é recorrer à Ethiopian Airlines.