Fugas - Viagens

  • A Depressão Danakil tem o “charme” de ser uma das mais inóspitas regiões do globo
    A Depressão Danakil tem o “charme” de ser uma das mais inóspitas regiões do globo Mark Panszky
  • Há poucos vulcões ainda em actividade: chegar à efervescente boca do Erta Vale é uma experiência inesquecível
    Há poucos vulcões ainda em actividade: chegar à efervescente boca do Erta Vale é uma experiência inesquecível Lucy Manderson
  • Há poucos vulcões ainda em actividade: chegar à efervescente boca do Erta Vale é uma experiência inesquecível
    Há poucos vulcões ainda em actividade: chegar à efervescente boca do Erta Vale é uma experiência inesquecível Rui Barbosa Batista
  • Cortar o sal
    Cortar o sal Rui Barbosa Batista
  • Cortar o sal
    Cortar o sal Rui Barbosa Batista
  • Cortar o sal
    Cortar o sal Rui Barbosa Batista
  • Sempre sob forte vigilância
    Sempre sob forte vigilância Mark Panszky
  • As crianças tratam das cabras, importante fonte de alimentação, pelo leite e pela carne. Antes dos 10 anos já são responsáveis pelo principal meio de subsistência da tribo
    As crianças tratam das cabras, importante fonte de alimentação, pelo leite e pela carne. Antes dos 10 anos já são responsáveis pelo principal meio de subsistência da tribo Rui Barbosa Batista

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Na Etiópia, um desafio extremo

Esta trintena de vulcões é imprevisível. Em 2011, o vizinho Monte Nabro eclodiu violentamente e matou 31 pessoas. Indiferente a isso, há dupla imprudente que dorme na orla da cratera. Não é caso virgem. Desta vez não serão cabras a despertar-me. Nem intrusos ou o grito agreste do Islão antes do romper da aurora. É uma erupção que às 4h30 ilumina o céu e faz temer o pior. A lava é fogo-de-artifício em enigmáticas espirais. Finalmente acalma. Serenamos...
Quando a claridade abraça o dia, a imagem do vulcão continua soberba. Tem mais matizes, embora menos contrastes.

Não apetece partir, porém já estamos atrasados para nova dura etapa. Aqui, nada é fácil. Dizem que, a descer, todos ajudam. Não é o caso. Serão uns penosos 250 minutos sob sol implacável.

Um guarda afar marca o ritmo. Descontraído. Com ambos os braços pendurados na kalashnikov aos ombros. Como se esta fosse uma vara de pastor. Nem tenta o inglês. Simplesmente sorri. Finalmente, a salvação. O acampamento e a sombra que permite descansar um pouco, respirar.

Teremos mais cinco horas em jipe nos piores trilhos até ao momento. Há camelos a vaguear no meio do nada. Burros também. As cabras não se aventuram por tão longe. Encontramos crianças onde menos esperamos.

Hamed Ela novamente no horizonte. Pronta para a nossa última estadia ao relento. No dia seguinte há cinco visitas “naturais” antes de voltarmos a Mekele.

Deserto de sal

Fortemente escoltados, partimos. São 20 quilómetros para o Dallol, oficialmente o ponto mais baixo da Depressão Danakil, 116 metros abaixo do nível do mar.

Ali ao lado, interminável subida a um surreal campo multicolorido de águas termais sulfurosas. Cristais em cativante arco-íris. A compensação pelo esforço é uma palete de tonalidades quentes que logo nos prende. Aqui e ali, vapores. Concentração de ácidos, gases. Estamos sobre ampla formação rochosa no meio do nada. A luz é fantástica e ainda conseguimos suportar a temperatura. O dia está apenas a romper.

Se esta tela impressiona, também a ausência de regras o faz. Podemos vaguear sem controlo – o exército está em todos os pontos altos estratégicos, somente vigiando possíveis agressores da Eritreia – e, inevitavelmente, vamos danificando estas formações em sensíveis formas cónicas. Por muito cuidado que se tenha, caminhar livremente leva-nos à destruição praticamente completa deste santuário. A única forma de evitar a desastrosa pegada ecológica será prescindir desta maravilha da natureza. Improvável...

A cinco minutos de jipe temos rochas cavernosas em paisagem lunar. Abaixo das expectativas. Tal como as lagoas ácidas bem perto. Ainda borbulham de gases. Os pássaros que lá bebem já não voam. Morrem ali. É fácil encontrar os seus corpos ressequidos. O lago Asale está a uns 10 quilómetros. Destaca-se pela mineração desse bem que a humanidade não dispensa. No horizonte branco a perder de vista encontramos minúsculas referências. Vão ganhando forma e dimensão até nos depararmos com camelos, burros e o homem. Num quadro que também já foi mar.

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