Apesar de ser viajante profissional há mais de 20 anos, conhecia apenas quatro dos 12 mares por onde deslizou. Da Austrália ao Sri Lanka, “recebeu sempre o mesmo frémito e excitação de chegar a um lugar que não se conhece”. “É o que nos faz sentir extremamente vivos”, garante, admitindo “guardar alguma saudade – no sentido em que as viagens que fez a seguir não foram tão épicas –, essa expectativa do próximo destino, não só do lugar, mas das condições de mar, de saber se o astral estaria em alta e iria conseguir encontrar condições épicas no mar ou não”.
“Os primeiros cinco meses correram como se controlasse o universo, depois tive ali uma falha de alguns meses e nas últimas duas etapas voltou outra vez tudo a explodir num festival de sorte e alegria”, avalia. “Terminei com esta plenitude do sonho realizado, da volta ao mundo completa e da liberdade cumprida”. Talvez por isso não acredita que parta novamente com semelhantes desígnios (“não deixou esse sentimento do inacabado, não preciso de outra”) e se pudesse voltar atrás faria exactamente o mesmo itinerário (“para ver se desta vez tinha mais sorte”, nomeadamente nas Galápagos – “aquilo ficou-me atravessado e queria ver se ajustava contas com essa onda”).
“Ao longo de todo o ano senti que estava no cruzamento ideal da vida para equilibrar o que fui aos 20 e o que serei aos 60, nunca me senti tão em sintonia com o momento presente”, conta, recordando que “chegava à noite e não lhe apetecia dormir por achar que o melhor da vida estava a acontecer naquele momento e dormir era quase um sacrilégio”.
Aos 46 anos elege aquele como o seu “melhor ano” até agora. “Foi das poucas vezes na minha vida em que não estive dividido, não houve nenhuma parte de mim a puxar nem para nenhum outro lugar nem para nenhum outro tempo e acho que isso é uma boa medida da felicidade”.
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Passagem para o Horizonte
por Gonçalo Cadilhe
268 páginas, edição Clube de Autor
Preço de capa: 16€
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